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Para Mantega, após impacto de crise mundial, Brasil está pronto para novo ciclo econômico

Ministro da Fazenda diz em São Paulo que país chega a 2014 com a economia mais sólida do que estava em 2008 diante das turbulências internacionais

Mantega sobre eleições: “O resultado de qualquer choque neoliberal terá como causa recessão e desemprego”

São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu hoje (15) a política econômica que vem comandando desde 2006, reafirmando que os resultados alcançados nos últimos anos pelo Brasil o colocam acima da média da maioria dos países do G-20. “Política econômica é um meio para se chegar a um fim. E o nosso fim é o bem-estar da população”, definiu, com o objetivo de explicar a atuação do governo federal, sobretudo com as várias medidas anticíclicas adotas após a crise financeira internacional de 2008, do receituário acadêmico geralmente descolado de impactos sociais.

“Estamos 50 anos atrasados em termos de infraestrutura, de nível educacional e de inovação. Começamos a investir para corrigir isso e estamos prontos para um novo ciclo. Não devemos desprezar o impacto da crise mundial em nossa economia. Segundo o Banco Mundial, 67% do nosso crescimento depende do cenário externo. Nos próximos meses, a economia mundial tende a melhorar e estaremos prontos para este novo ciclo”, observou.

“Tivemos desde 2008 um crescimento de 17,5%, muito próximo da Coreia e da Turquia e acima da média do G-20, dos Estados Unidos, México, Canadá, Rússia. É preciso desmontar o catastrofismo, pois esse desempenho ao longo das várias etapas da crise é muito diferente do desempenho que tivemos em crises passadas”, disse, durante o 11º Fórum Nacional de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

“Chegamos em 2014 com a nossa economia mais sólida do que estava em 2008 diante das turbulências internacionais”, afirmou. Mantega respondeu a críticas feitas pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch, de que o governo ostentaria indicadores econômicos diferentes dos números que estariam preocupando não apenas a indústrias, mas analistas de todos os setores da economia: “PIB zero, recessão e desemprego. Vamos bater no muro”, disse Steinbruch.

Mantega afirmou que as políticas anticíclicas adotadas desde 2008 sempre privilegiaram especialmente a indústria. Voltou a listar ações de desonerações de contribuições previdenciárias sobre as folhas de pagamentos, a redução pontual de tributos e as medidas de estímulo ao crédito, sobretudo no crédito destinado aos investimentos, por meio do BNDES.

O ministro assinalou que o governo tem tratado com seriedade o tripé econômico baseado em economia para pagamento de dívidas (metas de superávit primário, de inflação e monitoramento do câmbio flutuante), mas que o “tripé não é tudo”. Assinalou as diferentes intervenções do governo nos diferentes momentos da crise mundial, ajustando-se ora por meio do controle do câmbio, ora por meio dos juros. “Procuramos neste período anticíclico olhar para a produção. A indústria depende muito do mercado externo, que secou e não tínhamos mais para onde exportar”, disse, assinalando que o Brasil acertou ao privilegiar a defesa do emprego e da inclusão social. “Agora, na saída da crise, estamos prontos para dar início ao um novo ciclo de desenvolvimento”, repetiu, acreditando numa melhora nos cenários da economia mundial já no segundo semestre.

Embora sua saída do Ministério da Fazenda a partir do próximo ano já tenha sido anunciada, Mantega projeta que a partir de 2015 o governo já terá condições de promover um aumento gradual do superávit primário, para entre 2% e 2,5% do PIB ao longo do próximo ano. Para os próximos dois anos, prevê a convergência das expectativas de inflação para o centro da meta (na casa dos 4,5% ao ano). E vislumbra ainda uma política monetária mais flexível no câmbio, com vistas a evitar a apreciação do real e estimular as exportações.

“E para aqueles que prometem uma reforma tributária no primeiro dia de governo, asseguro que isso é uma ilusão”, criticou o ministro, referindo-se a promessas de campanha oposicionista. “Reforma tributária precisa ser discutida com o Congresso, e exige um novo pacto federativo, o que significa também a negociação com governos estaduais e municípios.”

Mantega mandou também recados aos defensores da independência do Banco Central, argumentando que isso significaria delegar a um “grupo de iluminados” a tarefa de definir a política monetária, retirando-a dos representantes eleitos pela sociedade. E prosseguiu nas críticas: “Ouvi até falar em defensores de um corte imediato de R$ 100 bilhões dos gastos da União. Não há como promover um corte desses sem afetar os programas sociais, os investimentos em saúde e em educação”.

E concluiu, endereçando mais um recado ao presidente da Fiesp: “Cuidado, Benjamin. Tenho ouvido falar por aí em desmame da indústria. Por desmamar entenda o fim de subsídios, de medidas pontuais de proteção a pretexto de colocar a indústria em situação de maior concorrência. Isso num momento em que há uma concorrência muito agressiva no mundo”, ironizou, finalizando com um alerta: “O resultado de qualquer choque neoliberal terá como causa recessão e desemprego”.