Mantega aposta em ‘cartas na manga’ do Brasil em caso de piora da crise externa

Mantega afirmou que “o Brasil possui condições muito melhores hoje do que tinha em 2008” (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil – arquivo) São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, […]

Mantega afirmou que “o Brasil possui condições muito melhores hoje do que tinha em 2008” (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil – arquivo)

São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o Brasil tem “cartas na manga” para lidar com um eventual agravamento da crise econômica internacional. Ele considera que o país tem pelo menos três vantagens comparativas em relação a outras nações, especialmente as desenvolvidas, e pode lançar mão desses recursos para continuar crescendo mesmo enquanto durar a estagnação externa.

Após reunião com empresários da Federação das Indústrais do Estado de São Paulo (Fiesp), na tarde desta segunda-feira (3), Mantega afirmou que “o Brasil possui condições muito melhores hoje do que tinha em 2008”. A referência é ao período quando eclodiu a crise de crédito nos Estados Unidos (da qual o Brasil foi um dos primeiros a sair). Atualmente, o epicentro da instabilidade externa está na Europa, em países como Grécia, Espanha, Portugal, Itália, entre outros.

Entre as vantagens está o fato de o país acumular quase o dobro de reservas internacionais atualmente, comparado com três anos atrás, além da situação fiscal sólida e de “uma política monetária com muitos graus de liberdade”. “O país vai continuar a crescer mesmo se a crise se agravar”, disse.

Caso essa piora ocorra, o ministro da Fazenda afirma que o Brasil pode adotar três opções: reduzir os depósitos compulsórios dos bancos, baixar a taxa básica de juros da economia e usar reservas para leilões de crédito. 

Os depósitos compulsórios são a parcela que os bancos são obrigados a deixar sem remuneração junto ao Banco Central. Na prática, esse percentual é uma forma de reduzir o volume de recursos disponível na economia. Por ser uma parte elevada, bastaria uma redução para ajudar a injetar dinheiro em circulação, porque aos bancos não interessa manter recursos parados, preferindo aplicá-los em outras operações, inclusive de crédito a empresas ou para famílias.

A Selic, taxa básica de juros definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, alvo constante de críticas de diferentes setores da sociedade, foi a arma sobre a qual Mantega mais teceu comentários nesta segunda. Apesar de a prática dos juros reais (descontada a inflação) mais altos do mundo ser uma desvantagem, o cenário atual coloca esse aspecto como um ponto até positivo.

A avaliação é de que é possível reduzir a taxa no Brasil, hipótese inviável para outros países. Pelo menos desde 2008, a maior parte das nações desenvolvidas adotam taxas de juro reais próximas ou até abaixo de zero como forma de incentivar a atividade econômica. O Brasil, com a Selic atualmente em 12% ao ano, tem inflação entre 6,5% e 7% no acumulado dos últimos 12 meses, o que significa 5% a 5,5% de juros anuais em termos reais.

Para Mantega, o patamar de juros real ideal seria entre 2% e 3%. Ele não arriscou dizer quando esse nível poderia ser alcançado. “Vai demorar, um, dois ou três anos”, avisou. Mas um eventual agravamento da crise poderia tornar viável essa situação.

Em relação aos leilões de reservas, a opção seria adotada caso faltem linhas de crédito externo. Na prática, seria usar o que o Banco Central tem acumulado de moedas estrangeiras, especialmente dólares, para facilitar a exportação por produtores brasileiros.

Inflação e impostos

O ministro afirmou também que a inflação estará mais controlada nas próximas semanas, com a queda dos preços dos alimentos no mercado internacional. Enquanto a elevação das commodities – matérias-primas agropecuárias e minerais cotadas em bolsas de valores pelo mundo, como açúcar, soja, carne etc. – foram vilãs da alta de preços no primeiro semestre, com a crise, a aposta é de que haja estabilização nas cotações. Com isso, a pressão sobre a inflação seria menor, acredita o governo.

“Podemos reduzir tributos, por exemplo. Mas só se a situação piorar”, avisou Mantega. “Temos muito armamento guardado, muita munição, que pode ser usada em caso de necessidade. E vamos preferir usar mais instrumentos monetários que fiscais.”

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, declarou ao ministro que os empresários confiam no governo, mas precisam de redução nos custos de produção, entre eles, o da energia elétrica, para se tornarem mais competitivos.