Alta dos juros é para recompor lucro do mercado financeiro, diz analista

O diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, diz que combate a eventual alta da inflação poderia ser feito com outros instrumentos

São Paulo – Em comentário na Rádio Brasil Atual, o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, afirmou que os rentistas, aqueles que vivem da renda da aplicação de capitais no sistema financeiro, fazem pressão para que o Banco Central recomponha os ganhos que, historicamente, o setor obtêm.

“Qualquer variação na inflação faz com que o ganho real dos rentistas diminua. Eles usam então dos movimentos de quebra de safra e aumento de custos de vida – como a alta no preço do tomate, por exemplo, para pressionar por uma elevação da taxa de juros e manter seus ganhos.”

Ontem (17), o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros da economia em 0,25 ponto percentual, para 7,5% ao ano.

A decisão vem depois de uma série de pressões sobre o Banco Central. A oposição ao governo Dilma Rousseff, parte da imprensa e representantes do mercado financeiro vinham cobrando um aumento da Selic por causa de um suposto risco de descontrole da inflação.

Para o diretor do Dieese, este é um debate permanente na sociedade brasileira. “Eles estão vencendo este debate com argumentos de que as causas de alta na inflação estariam relacionadas a capacidade do governo de atender a demandas sociais, como menores custos de vida.”

Clemente afirma que a ação foi “um remédio duro para os agente econômicos, e que recompõe os ganhos daqueles que aplicam no sistema financeiro.”

Ele destacou políticas de desindexação da economia, de fornecimento de alimentos, agrárias e de estoque regulador como respostas menos imediatas, mas que resolveriam a questão de forma a investir a riqueza no país na produção, e não no sistema financeiro. “Há outros ‘remédios’ que não levariam a esta freada na economia, que não são de competência do banco central, mas do governo em geral.”

A decisão do Copom considera que o problema da inflação deve ser enfrentado através de uma restrição no nível da atividade econômica, de acordo com Clemente. “Agora o ritmo deve diminuir, visando que os agentes econômicos – considerando que o crescimento não será aquele esperado – reduzam a pressão sobre os preços”, explicou.

O aumento de 0,25 foi classificado por ele como leve. “O Banco Central sinaliza para o mercado que se a inflação não venha a convergir para curva declinante, poderá tomar medida muito mais pesada. O aumento informou para a sociedade e para agentes econômicos que a atividade econômica pode ser restringida ainda mais caso a inflação não diminua.”

Ouça aqui o comentário de Clemente Ganz Lúcio na Rádio Brasil Atual

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