Economistas criticam postura ‘reticente’ do empresariado brasileiro

Em momento de crise internacional, industriais brasileiros parecem repetir o temor de 2008-09 e simplesmente responder a estímulo público, sem tomar a frente das soluções

São Paulo – Em seu afã de retomar o ritmo de crescimento econômico, o governo federal parece enfrentar nos últimos meses o mesmo desafio de 2008 e 2009: soa impossível convencer o empresariado a investir em um cenário de incerteza provocado pela crise internacional, que atravessa sua segunda perna. 

“O empresariado em geral é reticente. Ele não sai na frente, só responde ao estímulo público e, em geral, não toma a iniciativa, tende a ser mais cauteloso. Particularmente, os empresários brasileiros estão também acostumados com margens de lucro muito elevadas”, diz Luiz Carlos Prado, que é professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-presidente do Centro Celso Furtado.

Mas ele ressalta que essa postura pode mudar: “O próprio aumento de perspectivas quanto ao horizonte de investimentos facilitará também um maior investimento privado. Principalmente na área de infraestrutura, você tem muitas áreas de colaboração público-privada, onde o investimento público e o estímulo pela parte do Estado puxam também a ação do setor privado”. 

Exemplos não faltam. Mesmo com estímulos como a redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a General Motors ameaçou fechar uma seção inteira de sua unidade em São José dos Campos, no interior paulista, o que poderia levar ao fechamento de 2 mil postos de trabalho.

Enquanto o governo federal prepara mais um pacote de incentivos, provavelmente na próxima semana, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou uma pesquisa indicando que 39% do empresariado paulista aposta em um bom segundo semestre – segundo a entidade, o pior índice desde 2005.

Na terça-feira (7), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que o faturamento no setor teve alta de 2,9% em junho frente a maio, as horas trabalhadas aumentaram 1,8% e o emprego cresceu 0,3%. Ainda assim, disse a CNI, não foi o suficiente para recuperar as perdas do primeiro trimestre. 

Pedro Rossi, do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) da Unicamp, também sugere um maior estímulo aos empresários brasileiros por parte do governo. “É da natureza do capitalismo a retração do setor privado em momentos de crise. Nesses momentos, é papel do Estado intervir para recuperar a economia. Se temos a perspectiva de uma crise de longa duração, é preciso políticas mais permanentes que busquem o dinamismo econômico. O sucesso dessas políticas vai naturalmente fazer com que o setor privado passe a investir”, diz. 

Cláudio Considera é mais crítico sobre a relação do governo com o empresariado: “Na verdade, o estímulo deveria ser muito mais voltado para que os empresários voltassem a investir. O governo está fazendo uma política de redução da taxa de juros, mas não está sinalizando corretamente o que pode ser uma política de estímulo para investimentos. Há muitos tipos de oportunidades para investimento que o governo não esta abrindo para o setor privado”, diz. 

O economista cita como exemplo a situação do pré-sal: “O governo chamou a si toda a responsabilidade de investimento. Isto fez com que a Petrobras se endividasse de forma muito forte e esteja cambaleando em termos de resposta a uma melhor administração do pré-sal, enquanto havia a possibilidade de o setor privado assumir parte dessas responsabilidades porque há interesse. O setor privado está disposto a correr este risco. No entanto, o governo não abre mão”, diz.

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