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São Paulo precisa de políticas públicas de Estado, não de governo, diz Haddad

Prefeito defende políticas de continuidade, que sejam adotadas pela cidade independente do partido que esteja no poder

Leon Rodrigues/SECOM

“Se trata de educar o olhar para pensar na cidade a partir de uma lógica mais humana”, disse Haddad

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse na noite de ontem (25) que a população, o Executivo e o Legislativo municipal precisam fortalecer a construção de políticas públicas de Estado, e não de governo na cidade, para garantir continuidade e prioridade às ações do governo municipal. “Quando entra um governo de esquerda é uma prioridade, depois vem um de direita e prioriza outras coisas”, afirmou durante o lançamento do Plano Municipal de Cultura de São Paulo.

“Imagine o impacto disso na saúde e na educação? Sem políticas de Estado, um governo passa quatro anos incentivando o SUS (Sistema Único de Saúde), depois muda a gestão e, nos próximos quatro, a prioridade passa para a rede privada de saúde. Ou fica quatro anos fortalecendo o transporte público, depois a outra gestão passa mais quatro com foco no carro. A descontinuidade é um problema. Na cultura, isso é muito prejudicial”, disse Haddad.

O Plano Municipal de Cultura tem o objetivo de garantir continuidade nas políticas do setor, norteando as ações do município pelos próximos dez anos, do ponto de vista do financiamento, programação e planejamento da rede física. Com o plano, as ações na área de cultura seguirão uma trajetória determinada e não ficarão ao sabor das gestões que assumirem à prefeitura.

Uma das prioridades será combater as desigualdades regionais da cidade, no que tange à programação e à distribuição de equipamentos culturais. Por isso, o plano propõe que cada uma das macrorregiões da cidade tenha ao menos um espaço cultural público e que os atuais 237 projetos de fomento às artes, em diferentes linguagens, dobre nos próximos dez anos, chegando a 474.

“Quando olhamos nosso diagnóstico vemos que as políticas de fomento de teatro, música e dança estão muito concentradas nas regiões da Lapa, Pinheiros (zona oeste) e na Sé (centro), onde estão os grupos mais consolidados. Nós já conseguimos chegar nas periferias, mas precisamos avançar mais”, afirmou o secretário municipal de Cultura, Nabil Bonduki.

O documento, que está em consulta pública online até 15 de março, traz 50 metas, organizadas em 15 diretrizes, que variam de ampliação do quadro pessoal da Secretaria Municipal de Cultura à criação de indicadores municipais para a área, passando por profissionalização do setor, formação de público e catalogação de acervos históricos.

O prefeito defendeu que o Plano Municipal de Cultura deve se articular com os sistemas de cultura do governo estadual e do sistema Senai e Sesi, que são menores do que a rede municipal, além dos equipamentos particulares. “Espero que possamos juntos enviar para a Câmara um projeto que demostre o sentimento da cidade com cultura”, disse Haddad. “Se trata de educar o olhar para pensar na cidade a partir de uma lógica mais humana. O carnaval de rua deste ano (que reuniu 385 blocos) mostrou que o paulistano quer viver a cidade.”

Além da contribuição pela internet, os munícipes podem discutir o plano em audiências públicas regionais, que começam neste final de semana (27 e 28), no Centro Cultural da Juventude (zona norte) e na Biblioteca Prestes Maia (zona sul). Em março, o calendário começa dia 5 na Galeria Olido (centro), dia 12 no Tendal da Lapa (zona oeste), e dias 6 e 12, no Centro Cultural da Penha (zona leste). As atividades ocorrem das 9h às 19h.

Paralelamente, a Galeria Olido recebe audiências públicas temáticas, que abordarão temas como economia de cultura, idosos, cultura digital, literatura e cultura indígena. Os encontros começam em 1º de março e vão até dia 10, das 18h às 22h. A expectativa é encaminhar o documento ainda este ano para a Câmara Municipal, para que ele tramite como projeto de lei.

“Para nós, é muito importante que São Paulo assuma esse plano, porque com certeza vai espelhar outros municípios do país”, afirmou o secretário Nacional de Políticas Culturais, Guilherme Varella. “Saímos da época em que Cultura era uma área que ficava com pouco. As pessoas estão cientes dos seus direitos culturais, e o Estado tem que estar em condição de responder a essa demanda.”

Participe a acompanhe as discussões sobre o Plano Municipal de Cultura aqui.