Livro lançado neste sábado em SP conta a história do Movimento de Libertação Popular

As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomaz, de Renato Dias, narra a história da guerrilheira e do movimento que formou com o ex-ministro José Dirceu

Maria Augusta Thomaz soltou bomba na Esso e atacou o Consulado da Bolívia e foi baleada por policiais (Foto:Tortura Nunca Mais RJ)

São Paulo – Maria Augusta Thomaz morreu quatro vezes. Estudante de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e guerrilheira contra a Ditadura, ela lutou pela Ação Libertadora Nacional, dissidiu desta e formou, juntamente com José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, e outros 26 militantes, o Movimento de Libertação Popular (Molipo). Fez parte do sequestro do embaixador Charles Elbrick, em 1969. Pouco depois, sequestrou um avião em Buenos Aires, levando uma bomba no colo, abasteceu-o no Chile, e fugiu para Cuba, onde passou por treinamento militar, com Franklin Martins, ex-ministro de Comunicação Social. Maria Augusta soltou bomba na Esso, atacou o Consulado da Bolívia, em 1970, e foi baleada por policiais, enquanto estava na cama com seu namorado, o militante Márcio Machado, em 1973, período que tentavam iniciar uma guerrilha rural em Goiás. 

É a história dessa jovem que Renato Lopes narra em seu  “Luta Armada/ALN – Molipo  As Quatro Mortes de Maria Augusa Thomaz”, a primeira vez que a história da Molipo é contada. O lançamento em São Paulo ocorre na manhã deste sábado (28), e tem debate com a participação de José Dirceu, que assina o prefácio, e do economista Pedro Rocha Filho. Editado pela RD/Movimento, o livro tem apresentação do último comandante militar da ALN, Carlos Eugênio Sarmento Coelho, e posfácio do ex-vice-prefeito de São Paulo Luiz Eduardo Greenhalg.

A primeira morte de Maria Augusta foi quando perdeu o próprio nome. Deixando o movimento estudantil e ingressando na luta armada, teve de passar a se chamar, ora de Sofia, ora de Marta, Renata, e assim por diante. A segunda morte é a sua de fato, em 1973, quando foi assassinada por agentes do DOI-CODI, então, sob gestão de Carlos Alberto Brilhante Ustra. A terceira foi em 1980, quando houve uma limpeza social e os seus ossos foram sequestrados. E a quarta, em 1996, quando o governo Fernando Henrique Cardoso emite finalmente o seu atestado de óbito.

É por meio de sua saga que a história da Molipo é contada. Até então, pouco a respeito era divulgado. Para Lopes, o autor do livro, a falta de informação sobre o grupo se dava porque sobraram poucos integrantes dele. “Foi uma organização quase toda exterminada, os que sobreviveram foram os que ficaram em Cuba e mais alguns, como o Dirceu”, contou. A Molipo foi composta por dissidentes da ALN, após a morte de Carlos Marighella, em setembro de 1969, perseguido e assassinado, depois de ter orquestrado o sequestro de Elbrick, juntamente com o Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8). Marighella morreu, e quem assumiu a liderança da ALN foi Joaquim Câmara Ferreira. Conta-se que a nova liderança não aceitava a interferência do cubanos e que a preferência de alguns integrantes por ter a benção deles provocou o racha e a criação da Molipo. Lopes, entretanto, afirmou que isso não foi o fator determinante.

“O que motivou o rompimento e a abertura da Molipo foi uma série de críticas de integrantes, como Maria Augusta e Dirceu, ao perfil que a ALN tinha tomado. Eles diziam que era militarismo puro e que estava distanciada das massas, dos operários, dos camponeses e dos estudantes”, disse.

Lopes contou que a Molipo ocupou as dependências do Consulado da Bolívia, com uma bomba caseira que Maria Augusta fabricou, em represália ao assassinato de 1967 do guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara, guerrilheiro cubano que comandou com Fidel Castro a Revolução Cubana, em 1959. O grupo também atacou a empresa Esso, que, de acordo com Lopes, era o símbolo do capitalismo financeiro internacional, e Maria Augusta escreveu uma carta à imprensa, explicando os motivos ideológicos. Mas o projeto original do grupo era formar uma guerrilha rural, apoiada pela Organização Latinoamericana de Solidariedade, criada em 1967, em Cuba. A região do Brasil onde ela agiria era a mesma da Guerrilha do Araguaia e onde a Vanguarda Armada Revolucionária de Palmares, grupo do qual a presidenta Dilma Roussef era membro, tinha um grupo de ação, o Centro-oeste. E foi justamente essa empreitada que levou a uma perseguição das forças de repressão a exterminar o Molipo. “Com a deflagração da guerrilha, o grupo foi sendo dizimado um a um”, relatou.

Marcos Antônio Dias Batista,  irmão de Lopes, foi o militante desaparecido mais novo. Ele era integrante da organização da qual Dilma fazia parte e tinha 15 anos quando desapareceu. Em parte foi isso que o levou a escrever o livro, e em parte foi a beleza de Maria Augusta. Ele viu seu rosto estampado nos jornais de Goiania, em 1980, quando tinha 12 anos, e ficou impactado com a figura da morena de olhos verdes.

As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomaz é fruto de pesquisa e de 70 entrevistas e, para Lopes, a obra pode suscitar o debate sobre a Lei de Anistia, promulgada em 1979, que concedeu impunidade aos servidores do governo e militares que cometeram crimes contra os direitos humanos. “Com a Comissão Nacional da Verdade devemos provocar o Judiciário a rever a interpretação sobre a lei. A memória e a verdade são necessárias no Brasil. É preciso suscitar as circunstâncias das prisões ilegais, mortes e desaparecimentos e é preciso punir”, afirmou. Até hoje, Lopes não tem notícias sobre seu irmão, que nunca teve seus ossos entregues aos familiares.

Serviço                                                                                                                                
Luta Armada/ALN – Molipo  As Quatro Mortes de Maria Augusta Thomaz                               
Preço: R$ 50,00