Cinema

Documentário discute possíveis rumos para a economia brasileira

Depois de exibições em universidades e centros culturais, 'Um Sonho Intenso' estreia nos cinemas. Obra debate desenvolvimento socioeconômico desde 1930 e questiona: que tipo de sociedade queremos?

Divulgação

Belluzzo: “Lula teve a felicidade de fazer aquilo que todos nós queríamos, que é puxar os debaixo para cima”

Um documentário para relembrar e refletir. Um Sonho Intenso, dirigido por José Mariani, resgata o desenvolvimento socioeconômico do Brasil da década de 1930 até os dias de hoje. O filme, que desde o segundo semestre do ano passado vem sendo exibido em universidades e centros culturais de todo o país, chega nesta quinta-feira (23) aos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Mariani, diretor de O Longo Amanhecer – Cinebiografia de Celso Furtado, faz uma série de entrevistas com os principais intelectuais, economistas, historiadores e sociólogos brasileiros, intercalando análises e depoimentos com trechos de filmes e reportagens históricas. “Este documentário, de certa forma, é um desdobramento daquele sobre Celso Furtado. Só que desta vez o protagonista é o processo, uma visão de história que inclui a história social, cultural, econômica, uma forma de ver a economia de modo orgânico”, afirma Mariani.

Entre os entrevistados estão Maria da Conceição Tavares, Celso Amorim, Luiz Gonzaga Belluzzo, João Manuel Cardoso de Melo, Ricardo Bielschowsky, Lena Lavinas, o historiador José Murilo de Carvalho e os sociólogos Francisco de Oliveira e Adalberto Cardoso. Eles traçam um panorama crítico do processo de construção do Brasil moderno.

Getúlio Vargas deixa de ser analisado somente como ditador para ser lembrado também como o construtor do Estado moderno brasileiro. Um dos principais entrevistados, o economista e ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, afirma: “Vargas faz um pacto horizontal entre a oligarquia tradicional e atrasada com setores mais modernos”.

A edição é feita em ordem cronológica. O período ditatorial pós 1964 é revelado em toda sua ambiguidade. Em seguida, ao analisar os efeitos do governo de Fernando Henrique Cardoso no desenvolvimento socioeconômico brasileiro, Carlos Lessa é categórico: “(As privatizações) Acabaram com o projeto de soberania nacional”.

Na sequência, os entrevistados levantam os acertos e erros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Maria da Conceição Tavares reforça a importância da política de criação de emprego durante o governo Lula. “Quando ele disse, na eleição, que iria criar 10 milhões de empregos, o pessoal galhofou. Foi o que ele criou: 10 milhões de empregos. Nem mais nem menos. Nós fomos o único país que, na crise de 2009, não tivemos desemprego”, argumenta Maria da Conceição Tavares no filme.

Belluzzo reitera: “O Lula manteve a construção institucional que, no Brasil, veio da hiperinflação para cá. É um longo processo de reconstrução, do qual o Fernando Henrique também participou. Eu digo que o que Lula fez foi, na verdade, ter a sabedoria de aproveitar o momento de bons ventos da economia brasileira e deu um destino correto para as políticas sociais. E teve a felicidade de fazer aquilo que todos nós queríamos, que é puxar os de baixo para cima”.

Mas o documentário deixa claro que ainda há um longo caminho a percorrer. É por isso que o filmetermina com um alerta do economista da Unicamp João Manuel Cardoso de Melo: “Queremos virar uma caricatura dos Estados Unidos? Um individualismo de massas? Ou queremos construir uma sociedade fundada em valores humanistas?”.

Um Sonho Intenso
Direção: José Mariani
Direção de fotografia: Guy Gonçalves, ABC
Música: Aluísio Didier
Pesquisa de imagens: Antônio Venâncio
Consultor de roteiro: Ricardo Bielschowsky