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Diretoria da Funarte vê atividades da instituição afetadas por cortes do MinC

Diretor executivo da Funarte no Rio diz que novas exonerações 'estão a caminho' depois que o ministro da Cultura publicou hoje no Diário Oficial 70 exonerações, incluindo toda a cúpula da Cinemateca

Rovena Rosa/Agência Brasil

Sede da Funarte em São Paulo: prazo dado pela Justiça para a desocupação expira em 2 de agosto

São Paulo – Além da cúpula da Cinemateca que foi exonerada hoje (26) pelo governo interino, de 50 a 60 cargos em comissão na Funarte podem estar no alvo do ministro interino da Cultura, Marcelo Calero. No pacote de 70 exonerações publicadas hoje no Diário Oficial da União, uma afastou o coordenador geral de Administração e Finanças da Funarte, cargo que era exercido no Rio de Janeiro. “Foi a única hoje, mas parece que outras estão a caminho”, disse à RBA o diretor executivo do órgão, Reinaldo Veríssimo.

“Em cargos de comissão temos diretor de música, diretor de artes cênicas, diretor de artes visuais, coordenador de planejamento e administração, orçamento, temos uma série de cargos, em recursos humanos, coordenador de teatro, uma série de atividades de pessoas que exercem as suas atividades junto à administração”, afirmou Veríssimo. Ele diz que não há comunicado oficial do governo sobre as exonerações, mas apenas o que tem sido ventilado e noticiado pela imprensa.

Indagado sobre o quanto a exoneração de hoje afeta o trabalho da Funarte, o diretor da entidade disse que foi uma “grande surpresa”, por se tratar de uma função importante na administração. “É quem coordena há muitos anos toda a área de administração e finanças da instituição. Afeta no andamento da casa, diretamente: a parte de recursos humanos, a parte de orçamento, a parte financeira, tudo está subordinado a essa diretoria.”

O que é

A Fundação Nacional das Artes (Funarte) foi criada em 1975 para fomentar as artes no país. Seu papel é voltado ao desenvolvimento de políticas públicas em todas as expressões artísticas de música, dança, teatro e também o circo. “Os principais objetivos da instituição, vinculada ao Ministério da Cultura, são o incentivo à produção e à capacitação de artistas, o desenvolvimento da pesquisa, a preservação da memória e a formação de público para as artes no Brasil”, informa a página da Funarte.

Segundo a instituição, para cumprir sua função, a Funarte concede bolsas e prêmios, mantém programas de circulação de artistas e bens culturais, promove oficinas, publica livros, recupera e disponibiliza acervos, provê consultoria técnica e apoia eventos culturais em todos os estados brasileiros e no exterior.

O órgão tem no país 400 funcionários e teme-se, portanto, que cerca de 15% do quadro funcional do órgão deva ser afetado pelos cortes determinados pelo Minc.

 

Fim das ocupações

Ontem (25) a Polícia Federal pôs fim à ocupação do Palácio Capanema, sede da Funarte no Rio de Janeiro, depois de 70 dias de ocupação artística e resistência contra o governo interino. Hoje, a reportagem da RBA esteve na Funarte de São Paulo para verificar como está o processo de desocupação, cujo prazo expira no dia 2 de agosto, cumprindo os 15 dias dados pela Justiça para que os coletivos e artistas deixem as instalações.

Um grupo de artistas que não quis dar entrevista disse apenas que a partir de agora passa a ocupar uma sala da Funarte que antes servia de depósito. Mas essa informação não é confirmada pelo diretor executivo. “Isso não tem como fazer, a Funarte trabalha com editais públicos dando direito a todos os artistas de participarem, então, não seria dessa forma”, afirmou Veríssimo.

“A proposta que se fez a eles foi que apresentassem um projeto que no futuro fosse analisado, eu não posso fazer isso, a Funarte não trabalha dessa forma. Ela dá direito a todos os artistas para que participem do edital. Eu não posso ceder um espaço assim, isso não é democrático, não é legal. O que vai acontecer é que eles vão apresentar uma proposta, que será analisada para verificar a possibilidade de ceder um espaço caso haja essa possibilidade”, argumentou.

Cinemateca

A reportagem da RBA tentou contato na tarde de hoje com a diretoria exonerada da Cinemateca, mas foi informada que a diretora Olga Futemma não daria entrevista. Ele esteve reunida na tarde de hoje para conversar com os funcionários e avaliar os impactos da exonerações que incluem toda a cúpula da Cinemateca.

O Diário Oficial da União publicou hoje a exoneração de 70 pessoas em cargos de comissão, vinculados ao Ministério da Cultura. Uma produtora de cinema que preferiu não se identificar afirmou que o impacto será grande. “A Cinemateca é o grande acervo de produção cinematográfica no Brasil. Toda a produção que é feita com recursos públicos tem de deixar uma cópia lá por lei, eles têm todo acervo brasileiro, o contemporâneo e o histórico estão lá, é a nossa memória”.

“Essa exoneração é uma desgraça completa”, disse ainda a produtora. “Não dá nem para saber o que vai acontecer. Muito provavelmente vão privatizar, vender o acervo, e foda-se de memória quem precisa”, disse.