Bom e velho Ozzy sacode o Rio com clássicos

(©Foto: Adriano Vizoni/Folhapress) Rio de Janeiro – “Não podia deixar de vir hoje. A gente nunca sabe se ainda vai rolar outra turnê desse cara!”, disse um fã – meio […]

(©Foto: Adriano Vizoni/Folhapress)

Rio de Janeiro – “Não podia deixar de vir hoje. A gente nunca sabe se ainda vai rolar outra turnê desse cara!”, disse um fã – meio de brincadeira, meio a sério – na fila de entrada para o show de Ozzy Osbourne, realizado na noite de quinta-feira (7). A frase exprimia os sentimentos de boa parte das milhares de pessoas que lotaram o Citibank Hall no Rio de Janeiro (RJ) para assistir à quarta apresentação da turnê brasileira do Príncipe das Trevas. No palco, no entanto, o que se viu é que o velhinho trêmulo que aparece nas entrevistas e nos *reality shows da tevê não passa de mais uma curtição de Ozzy. Aos 62 anos, se não é nenhum Apolo, ele dá conta do recado com muita animação e uma voz idêntica a que tinha nos anos 1970, quando tudo começou.

No palco, alguns minutos antes da hora marcada, o cantor inglês já começou com o jogo ganho ao executar “Bark at the Moon”, clássico do disco homônimo de 1983, cantado em coro pelo público em delírio. Em seguida, “Let Me Hear You Scream”, a única música do disco novo tocada no show, também foi muito bem recebida pela platéia que, como já é costume nas apresentações dos dinossauros do rock no Brasil, era composta por jovens de 16 a 50 anos. Os mais antigos foram às lágrimas com os primeiros acordes de teclado de “Mr. Crowley”, clássico do primeiro disco solo de Ozzy, “Blizzard of Ozz”, lançado em 1980 e seguido pela pedrada “I Don’t Know”, do mesmo disco.

Nesse ponto, vale um parêntese para falar da excelente banda. Ozzy, aliás, sempre soube se fazer acompanhar por músicos de primeira linha. A performance do guitarrista Gus G em “I Don’t Know” quase arrancou o teto do Citibank Hall. A música, calcada no *riff monumental criado pelo genial guitarrista Randy Rhoads (falecido aos 25 anos em 1982) já foi executada por outros guitarristas de nome sem o mesmo brilho conseguido pelo grego Kostas Karamitroudis (esse é o verdadeiro nome de Gus) no palco carioca. Aos 30 anos, Gus G parece ser um legítimo herdeiro de uma linhagem de grandes guitarristas que tocaram ao lado de Ozzy e que, além de Randy Rhoads, inclui Zakk Wylde (que foi o braço-direito do Príncipe das Trevas nos últimos 20 anos) e o lendário Tony Iommi (do Black Sabbath).

Por falar em Black Sabbath, a quinta música do show de Ozzy foi um sonho para quem curte as origens do rock pesado. Nem sempre lembrada nos shows da banda inglesa ou de seus integrantes ao longo dos anos, a excelente “Fairies Wear Boots” mereceu uma levada caprichada. Para delírio do público, Ozzy lembrou o Sabbath novamente nos clássicos “War Pigs”, “Iron Man” e “Paranoid” (última música do show), além da instrumental “Rat Salad”, quando aproveitou para ficar treze minutos descansando no backstage.

Enquanto isso, a banda, que está reunida desde 2009 e é formada ainda pelo baixista Blasko, pelo tecladista Adam Wakeman e pelo baterista Tommy Clufetos, mostrava sua força. A cozinha formada pela dupla Blasko e Clufetos – que já haviam tocado juntos ao lado de Rob Zombie – é de um peso e eficiência impressionantes, com o excelente baterista espancando seu instrumento como há muito tempo não se via. Filho de Rick Wakeman, Adam mostrou que sabe das coisas nos teclados e ainda segurou uma segunda guitarra em diversos momentos do show, dando mais liberdade aos solos de Gus G.

Na segunda parte do show, Ozzy privilegiou o disco “No More Tears”, de 1991, o mais vendido no Brasil, e executou as músicas “I Don’t Want to Change the World”, “Road to Nowhere” e, já no bis, a balada “Mama, I’m Coming Home”. Entusiasmado, o público começou a pedir alucinadamente pela música que dá título ao disco e é um dos maiores clássicos de Ozzy. Mas, os pedidos foram em vão e “No More Tears” não foi tocada. O setlist com 15 músicas (cerca de uma hora e cinquenta minutos de show), aliás, foi o mesmo das apresentações em Porto Alegre (RS), São Paulo (SP) e Brasília (DF).

Não deve se esperar novidades, portanto, no setlist da última apresentação da turnê brasileira de Ozzy Osbourne, que acontecerá sábado (9) em Belo Horizonte (MG). É verdade que seria muito bom ouvir também músicas que ficaram de fora, como “Let it Die”, do novo disco, ou clássicos como “Over the Mountain” e “Flying High Again”, mas é natural que um artista com 40 anos de estrada e sucesso deixe de atender a alguns desejos. Até mesmo porque basta esperar a próxima vinda de Ozzy ao Brasil: “Os fãs podem ficar tranqüilos quanto a minha saúde. Eu vou continuar saindo em turnê mesmo depois de morto”, disse o sempre divertido Príncipe das Trevas, com a autoridade que lhe é conferida pelo rock and roll. Lenda é lenda.