Luto na cultura

Artistas lamentam morte de Danilo Santos de Miranda. ‘Reinventou a forma de fazer cultura no Brasil’

Sociólogo, filósofo e ex-seminarista, ele foi o responsável por transformar o Sesc, entidade ligada ao setor do comércio, na maior potência cultural do país. Danilo morreu ontem em São Paulo, aos 80 anos

Instagram/Reprodução
Instagram/Reprodução
O legado de Danilo é imensurável e seguirá vivo como combustível para a arte do país", escreveu a ministra da Cultura

São Paulo – Artistas, intelectuais e personalidades políticas se despediram nesta segunda-feira com homenagens a Danilo Santos de Miranda, sociólogo, filósofo e ex-seminarista que dedicou 55 anos de sua vida ao Serviço Social do Comércio (Sesc) de São Paulo. E que transformou a entidade ligada ao setor do comércio na maior potência cultural do país. Ele morreu ontem (29), aos 80 anos, em São Paulo.

Estava internado desde o começo de outubro no hospital Albert Einstein, na capital paulista. A causa da morte, porém, não foi revelada. O corpo, velado no teatro do Sesc Pompéia, na zona oeste, na manhã de hoje, será cremado no cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra.

Natural de Campo dos Goytacazes (RJ), ele perdeu a mãe aos setes anos de idade e foi criado pelos avós. Por influência da avó católica, entrou para o seminário jesuíta aos 11 anos. Na unidade em Friburgo, começou a estudar diferentes áreas e a participar de atividades culturais.

Com uma trajetória também de resistência à ditadura ciivil-militar, aos 24 anos abandonou a batina por entender que corria o risco de “ser uma pessoa infeliz”, como explicava em entrevista. Ele então migrou para São Paulo, onde estudou religião e filosofia em um mosteiro em Indaiatuba, no interior, e ciência sociais, na capital. Passou a trabalhar como entrevistador em uma agência de empregos até passar, em 1968, em um concurso de orientador social no Sesc. Depois de cinco anos, migrou para a gestão de pessoal do Senac, que também compõe o chamado Sistema S, ao lado do Sesc, Senai, Sesi, Senar e outras instituições.

Legado na cultura

Sob a direção de Abram Szajman, o sociólogo e filósofo foi convidado para o cargo de diretor regional do Sesc. Na nova função, Miranda impulsionou o projeto de expansão da rede, inaugurando a maioria das unidades pelo estado. Assim como consagrou a cultura dentro da instituição, ao substituir o financiamento a artistas e grupos residentes pelo modelo de fomento amplo e diversos.

À frente do Sesc, promoveu as diversas expressões artísticas, do erudito ao popular. Retirou as catracas das unidades para garantir o livre acesso às instalações e defendeu a inclusão das pessoas nas artes, nos esportes e a diversidade como principais legados do Sesc.

“O que seriam das artes no Brasil sem o Sesc?”, lembrou a atriz Zezé Motta durante um evento da instituição no ano passado. “É isso mesmo! Nós sabemos na pele o que representa o Sesc na pessoa do professor Danilo Miranda”, acompanhou a atriz Fernanda Montenegro. Diante de sua morte, a ministra da Cultura e artista Margareth Menezes destacou o legado de Miranda para as artes no país.

Homenagens

“Começamos a semana com a triste notícia da partida do grande Danilo Santos de Miranda. Sociólogo e filósofo, reinventou a forma de fazer cultura no Brasil com o seu trabalho no Sesc São Paulo, se tornando imenso para todos nós, pelo seu amor dedicado à cultura e arte. (…) O legado de Danilo é imensurável e seguirá vivo como combustível para a arte do país”, escreveu a ministra.

Em seu perfil no Instagram, a cantora e compositora Maria Bethânia também destacou o luto na cultura com a partida do sociólogo. “Luto na cultura brasileira. Morre um dos maiores incentivadores, se não o maior, da arte brasileira, da cultura nacional. Chora o Teatro, chora a Música, chora a Arte brasileira. Todas as reverências a esse grande homem Danilo Miranda. Todas as palmas para essa figura ímpar na cultura deste país. Abraçamos toda a família e amigos. Abraçamos a Cultura do Brasil.”

O cantor Chico César também prestou omenagem ao gestor cultural. “Fez tanto pela cultura. Perdemos um gigante, mas ficam seus infinitos ensinamentos. Obrigado, mestre”.

O jornalista Xico Sá ressaltou ainda que “nos tempos das trevas, quando o bolsonarismo tentou apagar manifestações artísticas e culturais no Brasil, Danilo Santos de Miranda fez do Sesc o terreiro alumiado. Descanse em paz”.

Em nota de pesar, o Sesc São Paulo prestou solidariedade à família e aos amigos de Danilo Miranda. Ele era casado com a assistente social Cleo Regina, com quem comemorou 50 anos de união ano passado. Danilo Miranda deixa a esposa e duas filha, Camila e Talita e quatro netos.

Confira outras repercussões:

Redação: Clara Assunção