Desfile

Elza e Ilú cantam e batucam a redenção das mulheres negras no centro de São Paulo

'Ainda existem mulheres caladas, submissas, reprimidas e é para essas que eu falo. Esse poder eu não sei explicar, mas existe. A minha voz é uma voz que não é submissa, existe para gritar e para fazer força'

Danilo Verpa/Folhapress

Cantora soltou a voz por cerca de uma hora sentada em uma cadeira no palco instalado na Praça da República

São Paulo – “Ser negra, mulher e brasileira é para mim um grande orgulho e minha maior missão. Que todas as mulheres sejam homenageadas. Somos a grande força do mundo e nosso caminhar é sagrado. Me sinto pequena quando recebo homenagens, mas esta me faz gigante, pois é a celebração de toda mulher brasileira. Todo meu amor e axé para as mulheres do Ilú”, diz Elza Soares, na rede social do coletivo.

A cantora de 85 anos foi a homenageada deste ano pelo grupo afrofeminista Ilú Obá de Min – em outros anos, o grupo já lembrou a escritora Carolina Maria de Jesus, a cantora Leci Brandão e a escritora, folclorista e artista plástica Raquel Trindade. O bloco formado por 350 percussionistas – só mulheres – se concentrou por volta de 20h, na Praça da República, na homenagem a Elza.

A musa do samba, agraciada pela rede BBC com o título de Cantora do Milênio, soltou a voz por cerca de uma hora sob chuva, sem se levantar de uma cadeira instalada no palco. A atriz Letícia Sabatella, agora também exercendo ofício de cantora, foi muito aplaudida ao ter a presença anunciada. O repertório trouxe alguns clássicos, como Malandro, e uma série de canções com temática feminista e racial, algumas delas do novo álbum A Mulher do Fim do Mundo.

Depois de uma saudação aos orixás e de uma representação humana de uma mandala ofertada à cantora, o cortejo desfilou pelas ruas até a dispersão no calçadão da Avenida São João, acompanhado por milhares de pessoas.

Elza Soares concedeu entrevista exclusiva à Revista do Brasil que circulará nos próximos dias. “Hoje temos poder, voz. Ainda existem mulheres caladas, submissas, reprimidas e é para essas mulheres que eu falo. Não podemos nos calar. Precisamos gritar quando algo ruim acontece contra nós, mulheres. Não podemos ter medo. Quando nos encorajamos, fortalecemos as que estão enfraquecidas”, disse ela à repórter Maitê Freitas, horas antes de se apresentar no Sesc de Santos, no último dia 28. “Esse poder eu não sei explicar, mas existe. A minha voz é uma voz que não é submissa, existe para gritar e para fazer força.”

Com informações de Evelyn Pedrozo

Framephoto/Folhapress
Bloco Ilú Obá de Min atrai milhares de seguidores. Homenagem foi também a Iansã e Ogum, orixás de Elza