Montagem de viaduto pode ter causado acidente no Rodoanel em SP

Crea, IPT, Ministério Público e Instituto de Criminalística investigam o que causou o desabamento de três vigas de um viaduto do trecho sul do Rodoanel, em Embu (SP)

Problemas na montagem podem ter causado problemas (Fotos: Divulgação/Dersa)

As três vigas de concreto do Rodoanel que desabaram em cima de dois carros e um caminhão na Rodovia Régis Bittencourt, na noite da sexta-feira (13), podem ter caído por problemas no transporte ou montagem do viaduto, afirmam especialistas ouvidos pela Rede Brasil Atual.

De acordo com o professor de engenharia civil da Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, Heitor Miranda Bottura, as vigas primeiro se deslocaram do lugar onde foram colocadas para depois partirem-se. “É muito provável que elas (as vigas) tenham tombado e ao sair do lugar, caíram para depois partir. Creio que não partiram para depois cair”, calcula.

Segundo ele, a hipótese mais provável é que o problema que levou as vigas a se moverem tenha começado no transporte das peças ou na montagem do viaduto, dois momentos sensíveis no processo. “É como se fosse um jogo de armar gigantesco. Tudo tem que ser exato. Pode ter sido um erro na montagem, um calço na medida errada ou a falta de um calço”, avalia.

Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo (Crea-SP), José Tadeu da Silva, a falta de uma viga na construção do viaduto é a causa mais provável para o problema. O viaduto deveria ter recebido cinco vigas, mas uma quebrou enquanto estava sendo levada para o local. As outras quatro foram colocadas na terça-feira (10) e a quinta seria colocada no sábado (14), mas antes disso, a estrutura despencou. De acordo com o engenheiro, as cinco peças deveriam ter sido postas no mesmo dia para que pudesse ser feita uma amarração entre elas, procedimento que impede o deslocamento das peças.

 

Rodoanel

O Rodoanel irá interligar as rodovias que chegam à capital paulista para eliminar o trânsito de passagem, principalmente de caminhões em cerca de 43% na Marginal Pinheiros e em 37% na Avenida dos Bandeirantes. O trecho oeste foi o primeiro a ser construído e tem 32 quilômetros de extensão.

O trecho sul do Rodoanel tem 61,4 quilômetros (km) de extensão e vai ligar as rodovias Régis Bittencourt, Imigrantes e Anchieta ao trecho oeste, que já une as rodovias Castelo Branco, Raposo Tavares, Anhanguera e Bandeirantes.

Segundo a Secretaria de Transportes, os investimentos do trecho sul são de R$ 3,6 bilhões, incluindo a construção da rodovia, desapropriações, reassentamentos e compensações ambientais. Os recursos federais para a obra são de R$ 1,25 bilhão.
As obras do Rodoanel no trecho sul foram divididas em cinco lotes e sua construção teve início em junho de 2007. O acidente ocorrido na última sexta-feira (13) aconteceu no lote 5, que tem 18,6 km e começa sobre a represa de Guarapiranga, passa por Itapecerica da Serra, e vai até Embu, onde vai ser ligada ao trecho oeste.

O consórcio responsável por este lote tem como empresas líderes a OAS e a Mendes Júnior.

Segundo Silva, quando não é feita essa amarração, vibrações podem causar o deslocamento das vigas. “O normal é que se coloque as cinco peças para haver o travamento. A falta da quinta peça pode ter gerado sobrecarga”, disse o engenheiro.

TCU apontou irregularidades

Auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 2007 e 2008 apontaram mais de 100 irregularidades no trecho sul do Rodoanel.  Em setembro deste ano, o Ministério Público Federal e o TCU firmaram um termo de ajustamento de conduta (TAC) entre a empresa Desenvolvimento Rodoviário (Dersa), vinculada à Secretaria dos Transportes e gestora das obras, e os cinco consórcios responsáveis pela construção do trecho sul do Rodoanel, para pôr fim as discussões sobre termos que foram acrescentados aos contratos de serviços executados nesse trecho, alguns deles considerados ilegais pelo TCU

No TAC foram estabelecidos os valores dos termos aditivos e modificativos dos contratos originais, dando aos cinco consórcios R$ 264 milhões para finalizar as obras. Caso haja descumprimento do TAC, o repasse de recursos federais para as obras deverá ser suspenso.

Além das irregularidades nos termos aditivos dos contratos, o TCU também viu irregularidades no uso de materiais na obra e até indícios de superfaturamento. Segundo relatório do tribunal, o consórcio responsável pelo lote 5 do trecho sul do Rodoanel fez alterações no tipo e na qualidade de alguns materiais para reduzir custos. Apesar das irregularidades, consideradas graves pelo órgão, as obras não foram paralizadas.

Paulo Vieira de Souza, diretor de engenharia da empresa de Desenvolvimento Rodoviário (Dersa) e gestor responsável pela construção do Rodoanel, admite a possibilidade de problemas na execução da obra. “Possivelmente tem problema na execução, no tombamento ou no transporte”, afirmou.

Crea, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o Instituto de Criminalística investigam as causas do acidente. O Ministério Público do Estado de São Paulo também decidiu, nesta segunda-feira (16), instaurar procedimento para apurar as causas do acidente. Em nota, o MP-SP informou que a investigação conduzida pela Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social também verificará “possível ato de improbidade administrativa por parte dos agentes públicos estaduais”.

Antecedentes

O desabamento das vigas do Rodoanel é o segundo maior acidente registrado em obras de grande porte no estado de São Paulo.

O primeiro aconteceu em janeiro de 2007, quando houve o desmoronamento de parte das obras de ampliação do Metrô. Na ocasião, sete veículos foram “engolidos” por uma cratera de 80 metros de diâmetro e 30 metros de profundidade e sete pessoas morreram soterradas.

As investigações apontaram irregularidades na obras e falhas de engenharia. Funcionários do Metrô e do consórcio foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo.

Com informações da Agência Brasil