Ministério aponta linhas de transmissão e subestação como causas de blecaute
Avaliação atribui blecaute a raios e vento que atingiram subestação de Itaberá, região sul do estado de São Paulo
Publicado 11/11/2009 - 15h58
O Ministério de Minas e Energia atribuiu a questões meteorológicas o blecaute que atingiu 18 estados do Brasil na noite de terça-feira (10). Depois de reunião com o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, o ministro Édison Lobão confirmou a versão apontada pela apuração preliminar.
Raios, vento e chuva na região de Itaberá, no Vale do Ribeira, região sul do estado de São Paulo, foram os causadores do problema. A subestação da cidade recebe três circuitos que vêm de Itaipu e, juntamente com Tijuco Preto, na mesma área, é responsável pela ligação da hidrelétrica com o Centro-Sul brasileiro.
Criado em 2004, o comitê é composto por representantes do Ministério, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Agência Nacional do Petróleo (ANP), Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Leia mais
>> Apontada como origem de blecaute, Itaberá lamenta fama repentina
>> Ministério aponta linhas de transmissão e subestação como causa de blecaute
>> Falta de investimentos no setor elétrico levou às crises de 1999 a 2002
>> Privatização é a responsável pela demora na volta da energia
>> Para Pinguelli, problema foi elétrico e não de energia
>> “Especialistas” culpam IPI reduzido, MST e índios por queda de energia
>> Apontada como origem de blecaute, Itaberá lamenta fama repentina
>> Sistema energético brasileiro é robusto e blecaute foi surpresa, diz engenheiro
>> Operadora de energia do Paraguai pede que não se politize o assunto
>> Para Itaipu, blecaute não teve origem na hidrelétrica
>> Meteorologia confirma raios no Vale do Ribeira
“As panes ocorreram no sistema que liga a cidade de Ivaiporã, no centro do Paraná, a Itaberá, no sul de São Paulo e em uma subestação que liga a Subestação de Itaberá a Subestação de Tijuco Preto, em São Paulo”, registrava mais cedo uma nota do Ministério. A falta de energia elétrica afetou dezenas de milhões de pessoas por mais de cinco horas em 10 estados brasileiros – em outros, a energia foi rapidamente restabelecida.
A linha de transmissão que liga subestações de Ivaiporã (PR) à de Itaberá, no sul de São Paulo, e uma subestação que leva energia de Itaberá a Tijuco Preto (SP) teriam sofrido pane, resultando no desligamento da linha de transmissão de Itaipu.
Também em nota, o ONS atribuiu a interrupção a uma perturbação de grande porte no Sistema Interligado Nacional (SIN) a três linhas de transmissão de 750 kV. “Para mitigar os efeitos dessa perturbação, os sistemas de proteção atuaram de forma a minimizar a extensão do evento – evitando que outras regiões do Brasil fossem afetadas”, acrescenta a nota. Foram cortados 28.800 megawatts de energia nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Fontes ouvidas pela Rede Brasil Atual sustentam que a subestação de Tijuco Preto, vinculada a Furnas Centrais Elétricas, é considerada como um gargalo do sistema elétrico de potência. Não há, porém, indicativos de que ela tenha sido a origem do problema.
Sistema de proteção
Ivan Nunes da Silva, professor da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, explica à Rede Brasil Atual que a função do sistema de proteção é evitar danos maiores ao sistema provocado por instabilidades. Caso uma usina deixe de fornecer energia para uma parte da rede, outras unidades tentam elevar a produção para compensar.
Mas se essa elevação for alta demais, relés e disjuntores são acionados para abrir o circuito, interromper o fluxo de energia e evitar riscos de incêndio e danos nos equipamentos. Sem entrar no mérito da causa específica do blecaute, ele ressalta que pontos de interligação como subestações são mais importantes para a rede.
Contingência tripla
O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, sustentou ao longo do dia que o problema se originou em Itaberá e que os fenômenos atmosféricos causaram a chamada “contingência tripla”.
“O sistema é projetado para aguentar contingência dupla… não existe tecnicamente viabilidade técnica e econômica para proteção acima de contingência dupla, é inviável”, afirmou à agência Reuters.
Segundo o secretário-executivo, a transmisão é desenhada para se manter em funcionamento mesmo em caso de falha em duas das três linhas que ligam Itaipu a subestação de Tijuco Preto (SP). A falha tripla, se confirmada, seria um fato inédito na história do sistema elétrico brasileiro.
Com as linhas de transmissão fora de operação, a usina hidrelétrica de Itaipu passou a “girar no vazio”. O jargão da área significa que a energia gerada não tinha como ser transmitida. Por não haver forma de se armazenar energia elétrica, a hidrelétrica teve de ser desligada, provocando o blecaute.
“Ao ocorrer um processo como esse, o backup existente no sistema elétrico brasileiro não é suficiente para restabelecer de imediato toda essa energia produzida por Itaipu”, disse o diretor da usina, Jorge Samek, em entrevista à rádio CBN. “Quando você tira no mesmo segundo 14 mil megawatts, aí causa esse problema que nós vivemos essa noite.”
Segundo o ONS, o apagão teve início por volta das 22h14 (horário de Brasília). A situação só voltou a ser normalizada após às 3h em bairros de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. O Paraguai, parceiro do Brasil em Itaipu, também sofreu os efeitos do blecaute, porém por um período bem mais reduzido.
Itaipu anunciou a volta à normalidade no início da manhã desta quarta-feira, quando 18 das 20 unidades geradoras da usina voltaram a produzir energia para Brasil e Paraguai, e 10.450 megawatts passaram a ser transmitidos para os dois países.
“Indícios apontam para falha na transmissão entre o Paraná e São Paulo”, informou a usina em sua página no serviço de microblogs Twitter. Segundo a usina, das outras duas unidades geradoras uma estava em manutenção programada e a segunda em stand by.
Com informações da Reuters e Agência Brasil