Candidatos à prefeitura do Rio querem municipalização dos bondinhos

Partidos de oposição defendem que governo do estado passe ao município a gestão do sistema que opera no bairro de Santa Teresa

Sistema de transportes do bairro é considerado patrimônio cultural da cidade (Foto: Asahpetx/Flickr)

Rio de Janeiro – O aniversário de um ano do acidente com o bondinho de Santa Teresa – que causou a morte de seis pessoas e deixou 56 feridos, em 27 de agosto, no Rio de Janeiro – fez com que a possibilidade de municipalização do sistema de transportes que opera no tradicional bairro carioca se tornasse um dos principais pontos de discussão da campanha eleitoral na cidade. Todos os candidatos à prefeitura dos partidos de oposição defendem que a operação dos bondinhos, interrompida desde a tragédia, deixe de ser prerrogativa do governo estadual, e até mesmo o prefeito Eduardo Paes (PMDB), que tenta a reeleição e é correligionário do governador Sérgio Cabral, já admite estudar essa possibilidade se for reeleito. 

O candidato Marcelo Freixo (PSOL), que é deputado estadual, propôs a realização de uma auditoria nos contratos firmados entre o governo estadual e a empresa TTrans para a reforma dos bondinhos. Integrantes da Associação dos Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast) afirmam que a empresa – a mesma que em 2005 se responsabilizou pela fracassada reforma da velha frota – não está respeitando as normas necessárias para a reforma atual, uma vez que o sistema de transportes do bairro é considerado patrimônio cultural do Rio de Janeiro: “A lei que tombou os bondes está sendo desrespeitada”, diz Freixo, que critica a “omissão” de Paes sobre o assunto. 

Tendo a questão da mobilidade urbana como um dos eixos de sua campanha, a candidata verde Aspásia Camargo, que também é deputada estadual, faz coro à crítica contra a adoção de um novo modelo de bondinho em detrimento do modelo histórico e defende o cancelamento da licitação promovida pelo governo estadual: “A administração dos bondinhos de Santa Teresa deve ser transferida ao município”, diz a candidata do PV.

Otávio Leite (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM) também se posicionaram pela municipalização dos bondinhos de Santa Teresa. O tucano defende uma gestão em parceria entre a prefeitura e o governo do estado, mas também critica o atual prefeito do Rio “por se ausentar do debate”. Já o candidato demista se limitou a classificar a interrupção prolongada do serviço como “um grande desrespeito à população da cidade”, enquanto sua vice – a deputa estadual Clarissa Garotinho (PR) – foi à tribuna da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para homenagear o motorneiro Nélson Correia da Silva, morto no acidente.

O prefeito Eduardo Paes prega respeito ao governo estadual e afirma que é preciso esperar a conclusão do processo de aquisição e entrada em circulação dos 14 novos bondinhos (que custarão R$ 49 milhões) para que se possa discutir uma eventual municipalização do sistema. Como o prazo dado pelo governo estadual para isso é de dois anos, seus adversários o acusam de fugir da discussão: “Não estou fugindo, mas confio na minha reeleição e acredito que isso [a municipalização] possa ser tratado mais tarde”, diz o prefeito, que imagina a integração dos bondinhos de Santa Teresa com o sistema de Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) que circularão no Centro do Rio até a Copa do Mundo de 2014. 

Impacto ambiental

Entre alguns dos principais candidatos a vereador pela oposição, a ideia de municipalização dos bondinhos de Santa Teresa também encontra forte respaldo. O vereador Eliomar Coelho (PSOL), que em 2008 apresentou ao Ministério Público um questionamento sobre o sucateamento do sistema, defendeu a ideia durante reunião com representantes da Amast: “A falta de manutenção e investimento mostram mais um caso de transporte público sucateado com a intenção de se justificar que a iniciativa privada assuma a operação”, diz.

Candidato ambientalista e ex-morador de Santa Teresa, Rogério Rocco (PV) também defende “a volta do bonde tradicional, e não desse bonde novo que estão pretendendo”. Ele afirma que, com a municipalização, o sistema utilizado no bairro poderia ser multiplicado em outros pontos da cidade: “A política de transportes do Rio de Janeiro privilegia o ônibus e o carro em detrimento de opções como o bondinho, o transporte hidroviário e outras alternativas que representariam maior mobilidade urbana com menor impacto ambiental. O transporte sobre trilhos é uma boa opção para o Rio”, diz.