Morte de policial feminina no Complexo do Alemão é desafio à política de UPPs

Patrulhamento em comunidade do Complexo do Alemão, no Rio: traficantes tentam retomar comunidade (Brazil Photo Press/Folhapress) Rio de Janeiro – Em um clima de forte emoção, na presença de dezenas […]

Patrulhamento em comunidade do Complexo do Alemão, no Rio: traficantes tentam retomar comunidade (Brazil Photo Press/Folhapress)

Rio de Janeiro – Em um clima de forte emoção, na presença de dezenas de familiares e amigos, foi enterrado nesta quarta-feira (25) no município de Valença (RJ) o corpo da policial militar Fabiana Aparecida de Souza. A soldado foi assassinada com um tiro de fuzil durante um ataque de traficantes à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro.

O ataque, na noite de segunda-feira (23), aconteceu menos de um mês após a retirada das tropas do Exército que ocupavam a região havia 19 meses e provocou a primeira morte de um policial de serviço em uma UPP. O episódio confirma que a pacificação do Complexo do Alemão é o maior desafio à política de segurança pública levada a cabo pelo governo estadual.

A busca pelos assassinos de Fabiana passou a ser questão de honra para a Polícia Militar do Rio. Durante o dia, duas operações realizadas nas favelas do Juramento e do Chapadão, também na Zona Norte da cidade, resultaram na prisão de dez homens e na apreensão de dois menores, todos apontados como possíveis integrantes do bando que atacou a tiros a sede da UPP em Nova Brasília.

Segundo a Coordenadoria de Inteligência da PM, o ataque foi comandado por quatro traficantes que integravam o grupo expulso do Complexo do Alemão após a chegada do Exército em novembro de 2010: Fernando Cézar Batista Filho, o Alemão; Alan Ferreira Montenegro, o Da Lua; Régis Eduardo Batista, o RG; e Ilan Nogueira Sales, o Capoeira.

As incursões também aconteceram na Nova Brasília e em outras favelas do Complexo do Alemão, com o apoio de homens do Batalhão de Choque e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que permanecerão na região até segunda ordem. As investigações estão a cargo da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil. O delegado Rivaldo Barbosa pediu a ajuda da população local para descobrir os assassinos, em uma iniciativa que foi vista também como uma tentativa de reforçar os laços entre a comunidade e a política de UPPs.

Escalada de ataques

 A escalada da violência no Complexo do Alemão, iniciada antes mesmo da saída do Exército, preocupa as autoridades. Em junho, policiais da UPP da Nova Brasília já haviam sido alvo de disparos efetuados por traficantes, confronto que se repetiu dias depois na UPP localizada na favela Fazendinha. No mesmo dia em que Fabiana foi morta, foi encontrado no bairro de Barros Filho, com marcas de tortura, o corpo de outro policial militar, o cabo Márcio Machado, que também trabalhava nas UPPs do Complexo do Alemão. O crime ainda não foi esclarecido.

A sede da UPP atacada no Complexo do Alemão havia sido inaugurada em abril deste ano. A nova fachada, com janelas de vidro, ficou repleta de marcas de tiros de fuzil, em uma imagem que dá a medida da afronta dos bandidos às forças de segurança pública. O governador Sérgio Cabral, que está em Londres, divulgou nota oficial na qual afirma que “a política de pacificação, representada pelas UPPs, não tem volta” e que será “cada vez mais consolidada e ampliada”.

Fuzil furou colete

Solteira, sem filhos e com somente onze meses de serviços na PM, onde era soldado, Fabiana Aparecida de Souza tinha 31 anos. Antes de ingressar na corporação, a policial, que também era técnica de enfermagem, trabalhava como recepcionista no ambulatório municipal de Valença, onde vivia após ter deixado a cidade natal de Rio das Flores (RJ). Além de ter sido a primeira de um policial em serviço em uma UPP, a morte de Fabiana foi também a primeira em serviço de uma policial feminina na história da PM do Rio de Janeiro.

Segundo as investigações, Fabiana deixava uma padaria localizada na área onde estão os containeres que até abril serviram de base à UPP da Nova Brasília quando cruzou com o grupo de traficantes que se preparava para o ataque ao novo edifício-sede. Foi alvejada à curta distância por um tiro de fuzil que atravessou o colete à prova de balas que usava.

Ao sair do IML, onde foi reconhecer o corpo de Fabiana, sua irmã, que também é policial militar, disse palavras que misturavam as emoções pela perda, ao mesmo tempo, da pessoa amada e da colega de farda: “É uma dor terrível. Gostaria que coisas como essa não acontecessem sempre na corporação. Tomara que sejam tomadas medidas para que nenhuma família passe pelo o que a minha está passando agora”, disse Luciana de Souza, que é cabo da PM.

Em nota, a presidenta Dilma Rousseff, que está em Londres para a abertura dos jogos olimpícos, enviou nota de pesar. Leia a íntegra:

 “O Rio de Janeiro prestou hoje sua última homenagem a uma heroína. A morte da policial militar Fabiana Aparecida de Souza, enquanto trabalhava na Unidade de Polícia Pacificadora de Nova Brasília, no complexo do Alemão, deixa a marca de uma tragédia pessoal, para sua família, e de um sacrifício na luta incessante pela consolidação da paz. 

Fabiana abraçou essa causa e nos deixou a certeza de que outros braços a sucederão, com o mesmo empenho, para consolidar cada vez mais o sucesso das UPPs. A paz vencerá, não há retorno.

Transmito minha solidariedade a toda a corporação policial militar e à população do Rio de Janeiro. Deixo em especial minha solidariedade e meu carinho a esta família, nesse momento de tristeza.”