Memória

Vange Leonel, artista, escritora, ativista

Ela morreu ontem, aos 51 anos, em consequência de um câncer. Amigos destacam seu pioneirismo na militância LGBT

youtube/reprodução

O corpo de Maria Evangelina Leonel Gandolfo foi velado na manhã de hoje (15) em Itapecerica da Serra

São Paulo – “Tudo aconteceu rápido demais. Num domingo, sabíamos que Vange Leonelestava doente. No domingo seguinte, sabíamos que estava internada e bastante mal. Hoje é segunda-feira, e sabemos que ela morreu.” É assim que o jornalista Pedro Alexandre Sanches inicia sua crônica em seu blog (Farofafá) em homenagem a Vange Leonel, que morreu ontem (14), aos 51 anos, completados em maio. Artista, cantora, ativista, escritora, Vange descobrira um câncer no ovário fazia pouco tempo – apenas 20 dias, segundo Cilmara Bedaque, sua companheira há 28 anos. O corpo de Maria Evangelina Leonel Gandolfo, Vange Leonel, foi velado na manhã de hoje em Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo. A cerimônia de cremação seria realizada no início da tarde.

Integrante da banda Nau nos anos 1980, Vange tem como canção mais conhecida Noite Preta, que foi tema de novela (Vamp, da Rede Globo), composta em parceria com Cilmara em 1991. Mas os amigos destacaram, especialmente, seu pioneirismo na militância LGBT.

“Todo mundo aprendia e ainda tem a aprender com Vange. Como militante LGBT, ela ouvia a todos e processava as informações ao seu redor da maneira mais ‘comunista’ possível: traduzia todo seu arsenal de conhecimento, o que não era pouco, em palavras muito bem articuladas para o entendimento comum. Escreveu peças, entre elas As Sereias de Rive Gauche, um clássico da narrativa lésbica. Novas gerações de meninas deviam procurar, ler, entender onde tudo começou”, diz a jornalista Carol Almeida, do blog Lebiscoito.

“Pensando a partir do pouquíssimo que escrevi sobre a Vange quando atuava como, ~gasp~, “crítico cultural” na Folha de São Paulo e depois na CartaCapital, eu até diria que a mídia tratou, tratamos, muito mal a Vange. É uma meia verdade: a mídia tratou e trata muito mal, com pedradas e pauladas, não só a Vange, mas quase todo mundo que existe, exceto um reduzidíssimo grupo de escolhidos, favorecidos, mimados, ludibriados. A mídia não respeita ninguém, nem mesmo aqueles pouquíssimos que ela julga (ela, a julgadora) respeitar”, escreveu Pedro Alexandre Sanches.

“Vange é a mulher que permanecerá em nós, brilhando como uma estrela na noite preta!”, escreveu o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ).

“Lamento profundamente a morte da cantora Vange Leonel. Lamento pela perda de uma mulher ousada, corajosa e ícone da luta pelos direitos das lésbicas e gays. É uma perda imensa para o movimento de mulheres, feministas e para todas e todos que lutam pela igualdade. Expresso meus sentimentos, como ministra e amiga, à sua companheira, à sua mãe, familiares, amigos e admiradores”, afirmou a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci.