Movimentos cobram reforma agrária e pedem grades para ‘assassinos’ do campo

Entre 7 e 10 mil camponeses e indígenas marcharam na manhã desta quarta (22), em Brasília, pela reforma agrária

Manifestantes negaram a intenção de ocupar o Planalto e de derrubar as grades (Foto: Antônio Cruz. Agência Brasil)

São Paulo – Entre 7 mil e 10 mil trabalhadores rurais realizaram hoje (22) pela manhã uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. Eles reivindicam o retorno da pauta da reforma agrária à agenda do governo e que este deixe de apoiar exclusivamente o agronegócio. A marcha fez parte do Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos dos Campos e das Florestas.

Durante a manifestação, militantes derrubaram uma parte da grade de ferro instalada para conter multidões na Praça dos Três Poderes e foram reprimidos por agentes da Tropa de Choque da Polícia Militar com sprays de gás pimenta. Quinze mulheres, representantes de movimentos sociais, foram recebidas pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, a quem foi entregue a Declaração Final do Encontro Unitário. 

O encontro reuniu a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), movimentos de pescadores artesanais e representantes de comunidades quilombolas para a elaboração de um programa comum. 

Lideranças dos movimentos afirmam que estava planejada uma manifestação pacífica e que não havia planos de ocupação do palácio. “Se quiséssemos, teríamos ocupado com toda a tranquilidade o Palácio do Planalto. Não era a grade nem os guardas que iriam segurar um grupo de 7 mil pessoas. Mas não havia essa determinação”, disse Cléber Buzatto, da coordenação do Cimi. 

Buzatto comentou que os movimentos haviam planejado se manifestar na avenida que passa em frente ao palácio, mas as grades os impediram, e, por isso, foram derrubadas. “Os trabalhadores e as trabalhadoras tiraram, sim, uma parte das grades para manifestar a indignação com o governo brasileiro. Os governantes têm de usar as grades para os assassinos dos povos indígenas e dos camponeses, que são os grandes fazendeiros. O povo não precisa de grade”, afirmou Buzatto.

Edmundo Rodrigues Costa, da coordenação nacional da CPT, também afirmou que derrubar as grades não era planejado. “Algumas estavam frouxas e, com aquela correria, caíram. Mas não teve nada de anormal, não teve reação com a polícia. Os policiais chegaram e fizeram o papel deles de evitar que alguns adentrassem mais ainda”, disse. “Não teve ato de agressão. Durante a caminhada, as pessoas exigiam que pudessem ficar lá. Era uma forma de dizer que não vamos mais ficar de braços cruzados. Agora as mobilizações vão ser dessa forma”, comentou.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), autarquia vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), informou que 1,1 mil famílias serão assentadas até o fim do ano. As fazendas desapropriadas somam cerca de 54 mil hectares e estão localizadas nos estados de Alagoas, da Bahia, do Maranhão, do Piauí, da Paraíba, de Sergipe, de Minas Gerais e de Mato Grosso, em áreas que concentram grande parte da pobreza extrema do país.

De acordo com a Agência Brasil, o presidente do Incra, Carlos Guedes, informou que os primeiros passos serão definir o valor das indenizações aos proprietários dos imóveis, escolhidos com base em critérios específicos, como área capaz de assentar mais de 15 famílias e proximidade a estradas para garantir o escoamento da produção do assentamento, e iniciar a seleção das famílias. “Nós concluiremos as avaliações num período de 60 dias. A nossa pretensão é fazer todos os assentamentos até o final do ano. A seleção das famílias obedece a critérios definidos em lei: elas têm de ser da região e ter um perfil adequado às atividades agrícolas”, explicou.

O encontro teve objetivo de unificar os movimentos e discutir a democratização da terra e o acesso à educação. A ideia foi também definir ações ante a postura do governo que, para eles, só apoia o agronegócio. Segundo Costa, o discurso é de ruptura com o governo, “que não representa mais os trabalhadores”. “Pra nós, da CPT, é inimigo, sim.”