Sem acolhida

Missão Paz diz que São Paulo recebe um ônibus por dia com haitianos

Cidade tem apenas 220 vagas para abrigar imigrantes, divididas em duas instituições. Ontem (25), uma delas somava sozinha 250 pessoas, que dormem de forma improvisada em corredores e salões

Missão Paz/ Reprodução

Além da falta de vagas, outro problema é demora para que o Ministério do Trabalho emita a carteira de trabalho

São Paulo – Se no começo deste mês a cidade de São Paulo recebia em média três ônibus fretados por semana com haitianos vindos do Acre, como denunciou a RBA, nos últimos dias o fluxo se intensificou: desde o último sábado (21) pelo menos um ônibus por dia chega de Rio Branco com imigrantes haitianos. A maior dificuldade é conseguir abrigo para todas as pessoas.

São Paulo tem apenas 220 vagas para abrigar imigrantes, dividas entre 110 vagas do Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (Crai), inaugurado pela prefeitura em agosto do ano passado, e mais 110 vagas na Casa do Migrante, na organização católica Missão Paz. Ontem (25), só essa última instituição acolhia 250 pessoas, que dormem de forma improvisada em salões e corredores. “Não cabe mais gente. Temos pessoas dormindo até em um corredor externo”, afirma o padre Paolo Parise, diretor da Missão Paz.

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O principal problema além das vagas em abrigos continua sendo a demora para que o Ministério do Trabalho emita a carteira profissional dos imigrantes, um processo que tem levado em média um mês na capital paulista. “Sem a carteira de trabalho não conseguimos ter rotatividade entre as pessoas que chegam e saem. Só anteontem uma empresa contratou 30 pessoas, ou seja, se tem carteira de trabalho a coisa flui. Precisamos de uma estrutura de rotatividade”, afirma o padre Parise.

A demora na emissão das carteiras de trabalho também aumenta a chance de os imigrantes caírem em redes de trabalho precário, já que são impedidos de conseguir um trabalho formal e ficam um período longo sem dinheiro. Pelo menos 230 imigrantes haitianos já foram resgatados de trabalhos em condições análogas à escravidão no Brasil entre 2013 e 2014, sendo pelo menos 12 em São Paulo, em uma oficina de costura na região central da capital paulista.

Os ônibus são fretados pelo governo do Acre, com verba de um convênio com o Ministério da Justiça para ações relacionadas à migração, como abrigamento, emissão de documentos e transporte. Só em 2014, o estado recebeu R$ 3,385 milhões pelo convênio. De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos do Acre, São Paulo é escolhido como destino pelos próprios haitianos.

Diante da situação, a Missão Paz lançou uma petição online que reúne assinaturas para exigir a ampliação de serviços para imigrantes, chamada “Diga não ao abandono dos haitianos em São Paulo e sim por uma gestão migratória”.

O documento pede a criação de um ponto de informação e orientação no terminal de ônibus da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, enquanto houver a transferência de imigrantes para a cidade, mais vagas para acolhida de imigrantes e refugiados em abrigos específicos e emissão da carteira de trabalho no local de entrada no país. As demandas foram apresentadas ao secretário municipal de Direitos Humanos de São Paulo, Eduardo Suplicy, mas a instituição ainda não teve uma resposta concreta do que será feito.