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Resistência pregada por Dom Paulo é atual, diz bispo, que cita PEC 241

Ato para celebrar 95 anos do arcebispo emérito de São Paulo também se torna momento de críticas ao atual governo. Líder do MST pede fim do 'Estado de exceção' e critica ameaças a Lula

Rovena Rosa / ABr

Durante homenagem por seus 95 anos, Dom Paulo ganhou presentes, incluindo um boné do MST

São Paulo – Ex-bispo auxiliar de São Paulo (recebeu a ordenação episcopal em 1975 por Dom Paulo Evaristo Arns), Dom Angélico Sândalo Bernardino citou o arcebispo, homenageado ontem (24), como inspiração de resistência à situação política de hoje. Dom Angélico disse ver o arcebispo emérito “misturado ao povo, misturado com os bispos, padres, religiosos, leigos e leigas, ecumênico, coração aberto, anunciando a urgência de resistirmos contra toda mentira”. E acrescenta: “Aquela resistência a que ele nos convida é permanente no Brasil atual também”.

Ele cita texto da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), divulgado na semana passada, sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241: “Em sintonia com a Doutrina Social da Igreja Católica, não se pode equilibrar as contas cortando os investimentos nos serviços públicos que atendem aos mais pobres de nossa nação. Não é justo que os pobres paguem essa conta, enquanto outros setores continuam lucrando com a crise”.

O ex-bispo responsável pela Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo lembra que o documento fala ainda de propostas de reforma trabalhista e no ensino, além da terceirização, como iniciativas que põem em risco “os direitos sociais do povo brasileiro”. Termina sua intervenção beijando a testa de Dom Paulo, que aplaudiu a fala.

Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile agradeceu ao cardeal por ajudar “a acabar com a ditadura no Brasil” e por salvar presos políticos brasileiros e militantes latino-americanos. Contou trazer um recado do ex-presidente e agora senador uruguaio José “Pepe” Mujica: “Diga a Dom Paulo que nós, uruguaios, temos muito orgulho dele e já o nomeamos ‘gaucho oriental'”. Ainda segundo Stédile, o arcebispo “salvou Leonardo Boff da Inquisição Romana”.

O líder dos sem-terra pediu ainda ajuda de Dom Paulo – destacando sua “autoridade de quem está sempre próximo com aquele lá de cima e a ‘amizade’ com São Francisco – para “acabar com o Estado de exceção no Brasil”. Disse esperar a multiplicação, entre a juventude, de “milhares de Dom Paulo e ajudar a democracia a voltar ao Brasil”. Também citou o juiz federal Sérgio Moro, pedindo auxílio para “não deixar aquele imperador de Curitiba prender o Lula”.

“Reze e nos ajude para que o povo volte a se organizar a volte para a rua”, acrescentou Stédile, para emendar um último pedido, de outra natureza. “Um centroavante para o Corinthians e também um para o Grêmio”, brincou.

O secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania em São Paulo, Felipe de Paula, também falou sobre possíveis ameças de perdas de direitos sociais. “Neste momentos difíceis, como hoje, a gente precisa de exemplos e referências muito fortes”, afirmou, referindo-se a Dom Paulo e lembrando que desde 2014 a cidade tem um prêmio de direitos humanos que leva o nome do arcebispo emérito.