Relatório de março previa maior cheia da história em Manaus

Três alertas do Serviço Geológico do Brasil mostravam que o nível do Rio Negro passaria de 29 metros

Foto mostra o nível do Rio Negro, que corta Manaus e, cheio, provoca o represamento dos igarapés (Foto: divulgação)

O nível do Rio Negro chegou nesta quinta-feira (25) a 29,71 metros, estabelecendo definitivamente a maior cota da história. Desde o fim de abril, o rio estava acima de 28,5 metros, nível em que começam a ocorrer inundações.

Mais do que isso, desde março foram emitidos três alertas pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apontando que o Rio Negro passaria de 29 metros. Daniel Oliveira, engenheiro hidrólogo do CPRM, destaca em entrevista à Rede Brasil Atual que as apresentações de relatórios são feitas com a presença de autoridades municipais e estaduais. Segundo a média histórica, quando o rio passa de 29 metros, leva-se em torno de 45 dias para que a água baixe. Mas na cheia de 1953, que era a maior até esta semana, o Negro ficou acima da cota normal durante quase dois meses e meio.

No momento, a Zona Sul de Manaus e parte do centro estão alagados, com mais de 16 mil pessoas afetadas. 31 famílias foram removidas nesta quinta de suas casas, mas a maioria prefere permanecer nas residências graças às marombas, pisos de madeira que permitem elevar o nível do chão de acordo com a necessidade. 10 mil metros de pontes de madeira foram construídos para que as pessoas possam se locomover.

A situação atual é grave não por conta apenas do Rio Negro, mas principalmente devido à cheia do Solimões, que represa o Negro e, em Manaus, provoca o represamento também dos 148 igarapés. Trata-se de uma região em que, normalmente, a incidência de doenças dermatológicas e diarréicas já é relativamente alta. O acúmulo de lixo, agora, é uma preocupação para as autoridades. Em entrevista à reportagem nesta semana, o secretário de Saúde de Manaus, Francisco Deodato, afirmou que, ainda que uma grande quantidade de dejetos tenha sido removida, trata-se de uma ínfima parte perto do total. 

A Secretaria Municipal de Limpeza Pública informou que retira em torno de mil toneladas semanais dos igarapés – não há estimativa sobre o total de dejetos atirados, mas na maioria são garrafas plásticas, sacolas, pneus e utensílios domésticos. Uma equipe tem trabalhado na conscientização dos moradores da região e 160 homens fazem a remoção de dejetos. Em alguns locais, no entanto, as máquinas já não conseguem ingressar por causa da água e a retirada é feita manualmente, levando vários dias em uma mesma rua.