Voo 1575

Racismo em avião da Gol será investigado pela Polícia Federal

Samantha foi retirada à força da aeronave porque se recusou a despachar uma mochila com laptop, única bagagem que portava, e acomodou o equipamento no bagageiro

(Reprodução Redes Sociais)
(Reprodução Redes Sociais)
Qual foi o 'crime' de Samantha?

São Paulo – A Polícia Federal informou na manhã deste domingo (30) que instaurou um inquérito policial para apurar “a eventual existência dos crimes de preconceito de raça ou cor” na retirada à força de uma cientista social de um avião da Gol, voo 1575, na noite de sexta-feira (28), no Aeroporto Internacional de Salvador. A PF comunicou, ainda, que a investigação foi instaurada na superintendência regional da Bahia e permanecerá em sigilo “até a completa elucidação”.

A vítima, identificada apenas como Samantha, foi retirada do voo porque se recusou a despachar uma mochila com laptop, única bagagem que portava. Ela temia danos ao computador pessoal, fundamental em seus estudos, caso tivesse de ser transportado no compartimento de carga. Com a ajuda de outros passageiros, conseguiu acomodar a mochila. Mesmo assim foi retirada a força por três agentes da Polícia Federal. Na ação, registrada em vídeo, ela não esboça resistência. Nem ofende ou agride funcionários ou policiais.

‘Coração sangrando’

A jornalista Elaine Hazin, que estava no voo, gravou o ocorrido e denunciou pelas redes sociais. “Meu coração está sangrando neste momento. Presenciei agora à noite um caso extremamente violento de racismo, sofrido por uma mulher negra no voo 1575 da Gol, chamada Samantha”, relatou. “Eu me desespero, todas com muito medo, apreensão e os policiais ameaçam algemá-la. Não dizem a razão de levá-la presa, só que foi uma ordem do comandante. Samantha era uma ameaça por ser uma mulher, ser preta, ter voz. Ela foi levada pela Polícia. A mãe de Samantha chorava desesperada ao telefone por não saber o destino de sua filha. Eu chorava também. Outras mulheres e homens se desesperavam”, acrescentou.

Inadmissível

“Samantha foi obrigada a passar a noite numa delegacia por um crime que não cometeu. É preciso denunciar mais esse abuso de autoridade sobre pessoas negras”, disse a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz em uma rede social. “Isso é inadmissível. Se alguém teve a integridade ameaçada nessa situação, não foi outra pessoa senão Samantha”, falou por uma rede social a antropóloga Débora Diniz, de quem a vítima de racismo é orientanda.

Em nota bem resumida, a empresa afirmou apenas que está apurando os fatos e que não tolera “nenhuma atitude discriminatória”.