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Programa de Localização de Desaparecidos vai acelerar investigações em São Paulo

Lançado ontem (6), o programa do Ministério Público pretende criar uma rede estadual de dados dos desaparecidos para auxiliar familiares na busca

Marcelo Camargo/ABr

O grupo Mães da Sé reúne familiares de desaparecidos na busca por pistas do paradeiro dos filhos

São Paulo – O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) lançou ontem (6), na capital, o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos com o objetivo de criar um banco de dados estadual e uma rede permanente de investigação e atuação de órgãos públicos nesses casos. As denúncias podem ser feitas pela internet.

Segundo dados da Delegacia de Pessoas Desaparecidas, ligada ao departamento de Homicídios e Proteção às Pessoas, cerca de 1.800 registros de desaparecidos são feitos por mês no estado. A promotora Eliana Vendramini, coordenadora do projeto, explica que o programa pretende facilitar a busca pelo ente desaparecido e retirar das famílias essa responsabilidade. “Nós queremos prevenir que a família tenha de fazer por si um trabalho investigativo, até porque ele é perigoso. A polícia e o Ministério Público existem para fazer isso.”

Para auxiliar o processo investigativo será feito um cruzamento de informações com diversos órgãos públicos para apurar em quais circunstâncias ocorrem os desaparecimentos. A promotora argumenta que o programa pretende ampliar a rede de parceiros já constituída. “Nós já temos o convênio com a Secretaria de Segurança Pública, via boletins de ocorrência, e faremos acordo com IML, INSS e cartório de registros civis de pessoas naturais”, afirmou ontem em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Francisca Santos teve o filho Hugo Camargo, de 10 anos, desaparecido em outubro de 2007, no Jardim Fortaleza, bairro da periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo. Há seis anos, a mãe busca em vão notícias do garoto que sumiu enquanto brincava na porta de casa. Ela conta que, na época, fez 6 mil cartazes e distribuiu em todo o estado, mas que não teve qualquer notícia de Hugo. Para Francisca, o menino pode ter sido vítima de tráfico de pessoas. “Por mais que eu busque, por mais que eu corra, não consigo uma única pista. O Hugo sabia ler e escrever, sabia o endereço de casa, então eu acho que alguém levou o meu filho”, diz.

Diversas mães e parentes como Francisca fazem parte do movimento Mães da Sé. O grupo, que reúne familiares de desaparecidos a cada 15 dias nas escadarias da Catedral da Sé, realiza atos com cartazes e fotos dessas pessoas na busca de informações sobre seu paradeiro. A fundadora do movimento, Ivanise Esperidião da Silva, acredita que o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos dará às famílias uma resposta sobre o que pode ter ocorrido. “Quando um filho desaparece, você vive a dor da incerteza de não saber o que aconteceu. Com a implantação desse projeto em São Paulo, eu e muitas mães teremos uma resposta mais rapidamente.”

Ivanise procura pela filha há 17 anos, mas é otimista com relação ao destino dos desaparecidos. “Desde 1995 eu já encontrei 2.657 pessoas com vida e 212 óbitos. Esse resultado é uma vitória”, reforça.

Um dos problemas enfrentados por essas famílias refere-se ao registro do boletim de ocorrência nas delegacias. O documento só pode ser feito 24 horas após o desaparecimento da pessoa. A promotora Eliana reforça que o programa lançado agiliza o processo de identificação por meio do boletim online. Além disso, familiares que não dispõem de internet terão atendimento pessoal na sede do MP, no centro de São Paulo, com pré-agendamento no telefone (11) 3119-7153.