Inserção social

Prefeitura de São Paulo e AfroReggae firmam ação para reintegrar ex-detentos

Egressos do sistema prisional relatam preconceitos e dificuldades para se reinserir no mercado; prefeitura buscará parceria com empresas

© Livia Amaral / WordPress

Estado é o grande ausente após cumprimento de pena por cidadãos em conflito com a lei

São Paulo – Com o objetivo de promover a inserção de egressos do sistema prisional no mercado de trabalho, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho firmou uma parceria com o Grupo Cultural AfroReggae, na última sexta-feira (29), em seminário realizado no centro de São Paulo. Egressos afirmam que além do preconceito das empresas, uma das maiores dificuldades para a reinserção no emprego é a falta de apoio do poder público.

“São várias ações planejadas, desde cursos, treinamentos, e oportunidades de trabalho. Nós da secretaria temos contato com empresas, vamos trabalhar com a sensibilização e promover uma ação sistêmica para assistir ao egresso. Porque são várias ações, o egresso tem problema de saúde, problema familiar, de relacionamento, de documentação, não é simplesmente dar um emprego, temos de entender a importância”, afirmou o secretário municipal do Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Eliseu Gabriel, à Rádio Brasil Atual.

Na real

Patricia Dias Tristão tem 39 anos, e ficou um ano e 8 meses presa no presídio de Franco da Rocha por tráfico de drogas. Há sete meses cumpre em liberdade provisória e desde então está a procura de emprego. “Quando eles caem na real que eu fui presa, na hora do atestado de antecedente, me dispensam, inventam outras desculpas. Aí estou nessa batalha, estou sem vale transporte, sem cesta básica, sem nada. Aí chega um traficante, e me pergunta se saí, e me oferece dois mil para trabalhar com eles, é muito difícil não cair no crime de novo.”

Ela já teve dois empregos com carteira assinada, fala espanhol e agora escreve um livro com histórias de mulheres encarceradas. Ela afirma que o crime está sempre de portas abertas para receber ex-presidiários e que o Estado falha na assistência aos ex-detentos. “Eu não quero mais voltar, quero uma vida decente. Mas posso falar que na realidade é quase impossível, se você vê sua casa pelada, sem nada, e uma pessoa te dá R$ 2 mil na mão, oferecendo pra voltar, é muito difícil falar não”, conta.

O coordenador de empregabilidade do AfroReggae, Schneider Pinheiro, afirma que a iniciativa apresentou bons resultados quando implantada no Rio de Janeiro. Em cinco anos, mais de 3 mil egressos foram contratados em mais de 50 empresas parceiras.

“Quando o preso sai do sistema, ele sai sem documento, desorientado, sem oportunidade, nada é oferecido a esta pessoa para ser recolocada na sociedade, ela é simplesmente jogado da cadeia para dentro da sociedade, de um modo absurdo. Na prática, buscamos empresas para poder estabelecer parcerias, para encaminhar egresso para o mercado de trabalho, para quebrar preconceito e quebrar um pouco o perfil normalmente exigido.”

Em São Paulo, cumprem prisão cerca de 220 mil pessoas.

Ouça aqui a reportagem de Anelize Moreira.

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