Barbárie

PF se apressa em descartar que morte de Bruno e Dom teve mandantes

Polícia Federal diz que assassinos agiram sozinhos. E desconfia que mais pessoas tenham participado do crime, além dos dois homens já presos

montagem sobre vídeos do Youtube
montagem sobre vídeos do Youtube

São Paulo – A Polícia Federal (PF) disse hoje (17) que não há mandantes no assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Também descartou a participação de facções criminosas. Portanto, para a PF os assassinos agiram sozinhos. Para chegar a essa conclusão, a polícia partiu de linhas de investigação que consideraram o trabalho desenvolvido por Bruno, que orientava moradores a denunciar irregularidades nas reservas indígenas. E também a presença de traficantes de drogas e armas, caçadores ilegais, madeireiros e garimpeiros na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, onde os dois desapareceram no último dia 5.

No entanto, os policiais suspeitam da participação de mais pessoas no assassinato. E por isso cogitam novas prisões nos próximos dias. Até o momento, estão presos Amarildo da Costa Oliveira, o “Pelado”, que confessou. E seu irmão, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”.

Os restos mortais de Bruno e Dom, localizados na quarta-feira (15), foram transportados ontem de Manaus para Brasília, onde serão identificados e periciados. O resultado, previsto para até dez dias, deve trazer mais informações sobre o assassinato.

Traficantes de armas, madeireiros e garimpeiros

O Vale do rio Javari abriga a segunda maior reserva indígena do país. Ali onde vivem a maior parte dos indígenas isolados no mundo – foco do trabalho de Bruno Pereira. Próxima à fronteira com o Peru e a Colômbia, a região é foco de constantes invasões. São traficantes de drogas e armas, caçadores ilegais, madeireiros e garimpeiros.

Ainda não se sabe ao certo se o assassinato de Bruno e Dom está associada com a ação desses e outros criminosos, desmontando a afirmação da PF de que não há mandantes. O superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, mantém as linhas de investigação sob sigilo. Mas testemunhas ouvidas disseram que Bruno vinha sendo ameaçado pelo trabalho que fazia na região. O indigenista foi coordenador regional da Funai em Atalaia do Norte, e entre outras coisas orientava moradores a denunciar irregularidades nas reservas indígenas.

Já o jornalista Dom Phillips, segundo o presidente Jair Bolsonaro, não era bem visto na região. Justamente por denunciar os crimes contra a Amazônia e seus povos. Em seu blog, o articulista do UOL Leonardo Sakamoto transcreveu fala do presidente, durante entrevista a um canal de Leda Nagle: “Esse inglês, ele era mal visto na região. Isso porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental… Então, aquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio. E resolveu fazer uma excursão”.

Corpos de Bruno e Dom enterrados

Os agentes da PF voltaram hoje ao local de buscas. O objetivo é resgatar o barco usado por Bruno e Dom, que teria sido afundado próximo ao ponto onde os restos mortais foram encontrados, às margens do rio Itaguaí. Indígenas da região e integrantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava) estão colaborando.

A PF tem muito a trabalhar antes de qualquer conclusão. Há contradições no que foi afirmado até aqui. Em um primeiro depoimento, “Pelado” disse que Bruno e Dom passaram em um barco em frente à comunidade São Gabriel, onde mora. E negou ter saído de casa no dia 5. E disse também que conhecia Bruno “de vista” e que nunca conversou com ele.

No entanto, uma gravação divulgada pela rede de TV Al Jazeera, do Catar, mostra o contrário. Houve um encontro, sem data especificada, entre Bruno Pereira e “Pelado”. Em uma patrulha no rio Itaguaí, Bruno aborda “Pelado”. O indigenista o alerta sobre a pesca ilegal em território indígena, à qual ele retruca. “A área aqui é da comunidade, não tem nada a ver com indígena, não. Toma seu rumo”.

Confira o vídeo


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