Má-fé

Petição denuncia ameaças a escritor por bolsonaristas que distorceram texto sobre terrorismo

Julián Fuks vem sofrendo ameaças de morte e agressões verbais após filhos de Bolsonaro, aliados e a Jovem Pan News distorcerem conteúdo de sua coluna publicada no UOL no último sábado (27). Manifesto é encabeçado por escritores, artistas e profissionais do livro

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De acordo com o colunista, o texto literalmente evoca uma ação poética. Mas os bolsonaristas vêm omitindo o fato dele afirmar, desde a primeira linha, que se trata de uma proposta de ação pacífica

São Paulo – Escritores, escritoras, artistas, jornalistas e cientistas lançaram abaixo-assinado em defesa da liberdade de expressão e em apoio irrestrito ao escritor e crítico literário Julián Fuks. Desde o último sábado (27), Fuks, que é colunista do portal UOL, vem sofrendo ameaças de morte e agressões verbais após os filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL), apoiadores bolsonaristas e a emissora Jovem Pan News distorcerem conteúdo de sua crônica publicada naquela data. 

Na coluna, dedicada a análises políticas e de arte, Fuks criticou que, por ocasião dos 200 anos da proclamação da independência do Brasil. o governo brasileiro solicitou a Portugal, o envio do coração de Dom Pedro I, que vem sendo trata com pompas de chefe de Estado. O texto fala da necessidade de um “terrorista”, no sentido figurado, contrário a toda violência, truculência, grosseria e brutalidade. Ou seja, o autor fala, na verdade, de um “não-terrorista”, mas a mensagem não foi entendida pela hora de seguidores do presidente. 

No entanto, para além da dificuldade de interpretação do texto, a máquina bolsonarista vem divulgando parte do original como se Julián Fuks estivesse incitando um ato terrorista real contra o presidente. A menção à palavra vem servindo de pretexto para uma campanha de mentiras e difamação que pede até a prisão do cronista, além de mensagens exaltadas que o ameaçam de violência física e de morte.

Abaixo-assinado

As ameaças contra Fuks, foram consideradas “gravíssimas” pelos autores da petição. “Agride todo o mundo da literatura, a arte e a cultura”, destacam. Até o fechamento desta nota, o documento contava mais de 5 mil assinaturas. Entre elas, da escritora Conceição Evaristo, a jornalista Eliane Brum e o sociólogo Boaventura de Sousa Santos. 

“É absurdo que o sentido original do texto tenha sido totalmente alterado para provocar as agressões e ameaças. Mais absurdo e intolerável ainda é que esse ato vil tenha sido realizado por figuras tão próximas ao atual presidente, seus filhos e pessoas ligadas à sua Administração. E é estarrecedor que parte da imprensa vinculada à extrema direita tenha aderido a essa versão gravemente falaciosa”, prossegue o manifesto. 

Os ataques virtuais a Fuks também envolvem agressões xenofóbicas por conta da descendência do escritor, que é filho de argentinos, e tem dupla nacionalidade. Em uma carta divulgada na quarta (31), Fuks relatou que as ameaças de morte também foram dirigidas à sua família. 

Perseguição bolsonarista

De acordo com o colunista, o texto literalmente evoca uma ação poética contra a cerimônia no feriado da Independência. Mas os bolsonaristas vêm omitindo o fato de ele afirmar, desde a primeira linha, que se trata de uma proposta de ação pacífica. 

“Está claro, para mim, que se trata de uma ação de distorção deliberada e inescrupulosa, para uso da situação com outras finalidades políticas. Desconsideram o teor e a natureza do texto, para forjar um crime que não há”, descreveu Fuks. A distorção da crônica foi publicada no perfil do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no Twitter. 

Na publicação, ele reproduziu um link de um site bolsonarista, destacando que “a esquerda ameaçando a democracia, de verdade!”. O tuíte foi compartilhado pelo senador que marcou os perfis do Supremo Tribunal Federal (STF) e do ministro Alexandre de Moraes.

Liberdade de imprensa em risco

A Corte e o magistrado foi indiretamente citado também pelo ex-secretário de Cultura Mario Frias que acusou o colunista, em suas redes, de “clamar por um terrorismo contra o Presidente”. Mas que, segundo Frias, “não será incluído em nenhum inquérito e nem será chamado de golpista”. Uma referência às medidas tomadas por Moraes contra empresários apoiadores de Bolsonaro que defenderam em um grupo no WhatsApp um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições.

Colunistas da Jovem Pan News também afirmaram que Fuks estaria defendendo a “contratação de um terrorista para atrapalhar os atos de 7 de setembro”. O que foi rebatido pelo escritor. “Atacando a mim, querem atacar o UOL e a imprensa de maneira geral, assim como qualquer visão que destoe de sua posição ideológica. Em suposta defesa da liberdade, pedem a prisão de um cronista. Em suposta defesa da paz, me atacam com toda a violência”, alertou Fuks.

Com informações do UOL