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Movimento negro reitera: violência policial é prática sistemática da PM paulista

Ouvidor da polícia chegou a confirmar a existência de grupos de extermínio, mas voltou atrás e aguarda investigação. Ativista lembra que prática é denunciada há três décadas

reprodução/TVT

Câmera de segurança flagrou PMs matando suspeitos já rendidos, no bairro do Butantã, zona oeste de SP

São Paulo – O ouvidor da polícia do estado de São Paulo, Júlio César Fernandes Neves, admitiu ao jornal Folha de S.Paulo que as imagens de PMs matando um suspeito já rendido, no bairro do Butantã, zona oeste de São Paulo, evidenciam a existência de grupos de extermínio na corporação. Ontem (17), porém, em entrevista à repórter Caroline Campos para Seu Jornal, da TVT, ele não confirmou a ligação destes casos com a chacina de Osasco e Barueri e evitou o termo extermínio.

“Tudo isso precisa ser investigado para ver se existe conexão com essa turma (da chacina de Osasco e Barueri)“, disse o ouvidor, e acrescenta que na ficha dos policiais envolvidos no caso das execuções, no Butantã, constam casos semelhantes que foram classificados resistência seguida de morte e que agora estão sob suspeita.

Segundo Joselício Júnior, coordenador do Núcleo Palmarino, o movimento negro já denuncia a prática da polícia – “matar sem perguntar” –, há três décadas e acrescenta que, em 2015, as ocorrências de chacinas e de assassinatos pela PM, no estado de São Paulo, foram as maiores dos últimos 10 anos.

“Não há uma deformação de um ou outro policial, e sim uma prática recorrente da PM de São Paulo, e também em outros estados, de agir de forma violenta, principalmente nos territórios pobres e periféricos”, afirma Joselício.

Em todo ano de 2014, 801 suspeitos foram mortos, somando os dados das polícias Civil e Militar. No primeiro semestre deste ano, o número de mortes em intervenções policiais chegou a 358, um recorde nos últimos dez anos. A chacina de Osasco e Barueri também é considerada uma das mais violentas da história, com 19 pessoas mortas. Até agora, só um PM suspeito foi preso, na semana seguinte aos ataques.

Para o coordenador do Núcleo Palmarino, é hora de discutir a desmilitarização das polícias. “É inadmissível um modelo de segurança pública militarizado. Esses casos emblemáticos, que têm ganhado visibilidade, são uma oportunidade gigante para a gente travar esse grande debate na sociedade brasileira, para a gente rever essa modalidade de segurança pública, que não é cidadã, é apenas repressora. E que tem um alvo sistemático, que é a população negra, pobre e periférica.”