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Operação que desbaratou plano do PCC mostra que PF voltou a ter interesse público, ‘não de uma família’

Jorge Rubem Folena de Oliveira lembra que, com Bolsonaro, a inteligência da Polícia Federal foi usada para “perseguir opositores e favorecer determinados grupos políticos”. Para o advogado, é elogiosa a Operação Sequaz contra o PCC, deflagrada ontem pela PF, e marca novo governo

Divulgação PF
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"A ação da PF diante de um novo governo democrático e popular é exatamente no sentido de proteger a todos. O papel da polícia é esse, investigar com clareza e evitar que aumente a criminalidade"

São Paulo – “Agora temos uma Polícia Federal com interesse estatal, não interesse para uma determinada família ou um determinado grupo político”. Assim avalia o advogado Jorge Rubem Folena de Oliveira, doutor em Ciência Política e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), que falou sobre a operação Sequaz, deflagrada pela PF nesta quarta-feira (22) para desarticular um plano da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A facção pretendia realizar ataques contra servidores públicos e autoridades. 

Em entrevista ao apresentador Rafael Garcia, na edição desta quinta (23) do Jornal Brasil Atual, o advogado elogiou a atuação da Polícia Federal, afirmando que o órgão atuou “com inteligência e dentro do princípio republicano” ao acompanhar, monitorar e realizar as prisões antes que os crimes fossem cometidos.

Para a operação, a PF contou com a participação de 120 policiais para cumprir 24 mandatos de busca e apreensão. Além de sete mandados de prisão preventiva e quatro temporárias. 

Entre as ações criminosas planejadas estavam homicídios e extorsão mediante sequestro em ao menos cinco estados, Rondônia, Paraná e Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Um dos alvos do plano seria o senador Sergio Moro (União Brasil). As motivações para um atentado contra o ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro ainda estão sendo investigadas.

Inteligência sobre a politização

“Uma polícia republicana atua com inteligência. E atuando com inteligência você não precisa dar tiro, não tem uma ação de violência. É isso que pedimos e defendemos no Brasil. Que se use mais inteligência em tudo nesse país. E a Polícia Federal, ontem, demonstrou que tem total capacidade para isso, para ajudar a sociedade a desbaratar situações gravíssimas como essa que foi apontada. Porque se de fato acontecesse, diversas autoridades no país inteiro estavam sob ameaça. Não uma ou duas autoridades ou determinado segmento de uma família, mas como um todo”, observou Folena. 

A superação do processo de politização da PF promovido nos últimos quatro anos pelo governo anterior também foi ressaltada na entrevista. De acordo com o advogado, o quadro técnico da corporação foi empregado para “perseguir opositores” do clã Bolsonaro.

Assim como para “favorecer determinados grupos políticos” aliado ao ex-presidente. “Exatamente quem estava ocupando a cadeira da presidência da República que se favoreceu, conforme diversas oportunidades divulgadas e debatidas em tribunais, para favorecer seus familiares e a si próprio”, lembra Folena. 

Contudo, diante de “um novo governo democrático e popular”, a PF cumpre seu papel de “proteger a todos”, completa. “O papel da polícia é esse, investigar com clareza e evitar que aumente a criminalidade no Brasil. Essa atuação preventiva é muito importante e, assim, esperamos que daqui pra frente sejam desbaratadas cada vez mais situações criminosas”.  

O social e a lei

Apesar da atuação da Polícia Federal, a operação ganhou de fato visibilidade na imprensa comercial por ter como um dos alvos dos ataques o agora senador Sergio Moro (União Brasil-PR). A avaliação de Folena é que o ex-juiz da Lava Jato, fez uma espetacularização do episódio.

Além disso, Moro defende uma visão punitivista como política prisional para o país, compartilhada por parlamentares da extrema-direita, que falham ao não apresentar um projeto “que possa levar às pessoas uma melhor qualidade de vida, trabalho e esperança”. “Só se resolve o problema da violência dando melhores condições de vida para as pessoas”, rebateu o advogado.

“Se elas (pessoas que cumprem pena) não tiverem um salário digno (quando saírem da prisão), um trabalho, elas não vão ter um outro caminho a não ser o que se apresenta para poder sobreviver. Então é um compromisso do Brasil e da sociedade como um todo criar condições, (para) acabar com a pobreza e a desigualdade e levar a um processo de desenvolvimento. Isso tudo está ligado. (…) Mas, ao contrário, esse senador, que por muito tempo atuou à frente da Lava Jato, destruiu a economia do Brasil. Ele prejudicou várias empresas nacionais e causou um grave problema para o país”, completou. 

Confira a íntegra da entrevista de Jorge Folena sobre a Polícia Federal: