contra retrocessos

Ocupações em prédios da cultura continuam mesmo após recuo de Temer

Artistas e ativistas da cultura recusam-se a dialogar com novo ministro de governo Temer, que consideram praticar um golpe de estado

Antonio Augusto / Câmara dos Deputados

Artistas temem que governo interino flexibilize critérios de avaliação de patrimônio histórico

São Paulo – Nesta quarta-feira (25), quatro dias após o presidente interino Michel Temer recriar o Ministério da Cultura, que havia extinto dia 13, um dia após sua posse, persistem as ocupações a prédios do órgão em 21 capitais. Ativistas afirmam que não reconhecem o governo e acusam a equipe de promover um golpe de estado. Por isso recusam-se a dialogar com o novo ministro, Marcelo Calero. “São ocupações pacíficas, poéticas e afetivas, com uma clara posição de contraponto ao caráter policialesco, intolerante e violento do discurso e dos atos desse governo interino”, afirmou o representante da Frente Nacional de Teatro, Fernando Yamamoto.

As ocupações ocorrem em prédios da Fundação Nacional das Artes (Funarte) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan). Os artistas demonstraram, durante a audiência pública realizada ontem na Câmara dos Deputados, preocupação em relação ao destino das instituições, especialmente o Iphan, já que foi criada uma secretaria especial do patrimônio histórico e artístico nacional. O medo é de que o novo governo interino flexibilize os critérios de avaliação de localidades consideradas patrimônio histórico, favorecendo a especulação imobiliária.

“Neste momento, o diálogo é por aqui: pela luta, resistência e ocupações, e não legitimar junto ao ministro da Cultura desse novo governo ilegítimo. A volta do Minc não é a volta das políticas que lutamos anos para conquistar e ainda faltavam muitos avanços, que foram interceptados no meio do caminho”, argumentou Yamamoto. A audiência foi convocada pelo presidente da Comissão de Cultura, deputado Chico D’Angelo (PT-RJ) e pelos deputados Wandenor Pereira (PT-BA), Jean Wyllys (Psol-RJ), Luizianne Lins (PT-CE), Alice Portugal (PCdoB-BA) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Antonio Augusto / Câmara dos Deputados
Deputados do PSC causaram polêmica durante a audiência

Houve momentos de tensão durante a audiência, quando chegaram no plenário os deputados do PSC, Pastor Marco Feliciano (SP), Jair Bolsonaro (RJ) e Eduardo Bolsonaro (SP). “Sou cantor, tenho três CDs gravados e 20 livros escritos. Eu sei como funciona a cultura. Isso aqui não é cultura, é baderna”, disse o conservador da bancada evangélica Feliciano, com os presentes gritando em coro: “Golpistas, fascistas”.

Nas ocupações, os manifestantes realizam atividades culturais diversas. A opinião comum é de que a reconstituição do Minc foi uma vitória, porém parcial. Eles reivindicam a volta de outros ministérios, como o das Mulheres, Direitos Humanos e Igualdade Racial. Os protestos também se dirigem a cortes promovidos em áreas como saúde e educação neste breve período de governo interino.

Com informações da Rádio Agência Câmara