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‘O problema não é o crack, é a vida’, afirma padre Júlio Lancellotti

Coordenador da Pastoral do Povo de Rua acredita que decisão da prefeitura de São Paulo de monitorar 'cracolândia' revela preocupação com a segurança, e não com os problemas que levam à dependência

Danilo Verpa/Folhapress

Na visão do religioso, a internação de usuários de crack não é a resposta para todos os problemas

São Paulo – A Guarda Civil Metropolitana de São Paulo passará a monitorar a região da Luz, apelidada de “cracolândia”, com um ônibus equipado com câmeras. De acordo com a Secretaria de Segurança Urbana da gestão Fernando Haddad (PT), o objetivo é que as imagens sejam usadas para o reconhecimento e a prisão de traficantes, e não para a repressão aos usuários.

O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, acredita que a medida não surtirá o efeito desejado, porque não trabalha com o ser humano e as razões pelo qual ele é um dependente químico, mas só age em prol da segurança e contra o usuário de drogas. “O que nós precisamos é que o atendimento chegue à comunidade, chegue à família, que os Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPS AD) estejam mais presentes”.

Em janeiro deste ano entrou em funcionamento o Centro de Referência de Álcool e Drogas (Cratod), do governo de São Paulo. Até o momento, já foram feitas mais de 1.700 internações, sendo apenas uma compulsória. “Tanto se falou da internação compulsória como se fosse a solução, e foi feita uma única dos 6.700 acolhimentos e das 1.700 internações. Só que nós não sabemos, desses 1.700, quantos continuaram, quantos concluíram o tratamento e quantos estão em uma fase de recuperação de tratamento”, argumenta, em entrevista à TVT.

O programa do governo federal “Crack, é possível vencer” também é uma das iniciativas para o tratamento de dependentes químicos. Em parceria com as prefeituras, ele pretende fornecer 6 mil vagas para internação até o final deste ano. Lancellotti reforça que nem todas as pessoas precisam de internação.

“Há, no Brasil, 370 mil usuários de crack, e o programa oferece só 6 mil vagas. A internação não é a solução, muitos precisam de atenção psicossocial, de atenção para as famílias. É preciso um atendimento preventivo e que esteja sintonizado com a vida da pessoa na sua comunidade para termos uma resposta maior.” Ele ainda frisa a importância de ver o processo de recuperação como uma algo gradual. “A recuperação se dá quando as pessoas percebem que são capazes de fazer algo novo, que a vida delas pode ter valor e que elas podem ser vistas com respeito e com dignidade.”