deficiente atrapalha?

‘Não há pessoas com deficiência, mas políticas deficientes’, diz ativista

O Ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse esta semana na TV que crianças com deficiência atrapalham o aprendizado das outras crianças. Por isso devem continuar confinadas

Rodemarques Abreu/Semed/Amazonas
Rodemarques Abreu/Semed/Amazonas
Entre os dados levantados está o total combinado de 3 trilhões de horas de aulas presenciais perdidas em todo o mundo.

São Paulo – A afirmação do ministro da Educação Milton Ribeiro de que as crianças com deficiência devem ficar fora das escolas comuns, porque atrapalham o aprendizado dos alunos sem deficiência continua repercutindo negativamente.

Em entrevista nesta manhã à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, a psicanalista, escritora e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Ana Laura Prates afirmou não se tratar apenas de uma fala infeliz no ministro (Assista no final desta reportagem).

“É claro que a fala nos magoa a todos, jovens, professores, estudantes. Mas não podemos ficar paralisados nessa mágoa. Vindo de quem vem, a gente sabe que se trata de uma coisa corriqueira nesse governo. Há uma política de exclusão em todos os campos”, disse Ana Laura, que fala também como mãe de filho com deficiência.

Deficiência e deficiências

Na sua avaliação, no entanto, a deficiência em si não existe, não existem pessoas com deficiência. Existe apenas na limitação do que o Estado e a sociedade oferecem em termos de acessibilidade”, disse, lembrando que há diversos recursos tecnológicos desenvolvidos para suprir limitações.

O pior, para ela, é o lado capcioso da política de Bolsonaro e Ribeiro, que dá a falsa ideia de estar permitindo que os pais escolham o melhor para os seus filhos. “Imagine que vamos todos a um show. Chegando lá, na entrada, há o caminho para as pessoas sem deficiência, com escadas. As demais, se forem por ali, terão de ser carregadas e por isso vão atrapalhar, causar ainda mais transtorno. Mas se forem pelo acesso específico, não darão trabalho e chegarão logo. Mas ficarão isoladas, sozinhas, sem seus amigos. É isso que o governo está oferecendo e muita gente gostando”, disse.

Para a jornalista Vanira Kunc Dantas, mãe de Mariana, com paralisia cerebral, o debate sobre inclusão já deveria ter sido superado no Brasil. E todos os brasileiros deveriam ter acesso a escolas regulares e acesso a serviços e terapias específicas necessárias. Tudo na base do direito e sem preconceito.

Alunos com deficiência

A expressão “atrapalhar os outros alunos” é comum dentro do MEC. Em fevereiro o ministro Milton Ribeiro realizou seminário para divulgar política que segrega alunos com deficiência. “As escolas estão tendo que contratar profissionais especializados para ficar cuidando daquela criança para ela não atrapalhar a aula dos demais alunos”, disse na ocasião o secretário-executivo do MEC, Victor Godoy Veiga, segundo o Estadão.

Com o evento virtual, o MEC passou por cima do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu o Decreto Federal 10.502, de 30 de setembro de 2020, que criou a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida.

Nesta segunda-feira (16), ao ser questionado sobre programas para o setor no governo de Jair Bolsonaro, ele saiu em defesa da política de segregação

Redação: Cida de Oliveira – Edição: Helder Lima


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