violência policial

Movimentos pedem providências ao MP sobre o assassinato de cinco jovens em São Paulo

Organizações de direitos humanos protocolaram documento hoje, pedindo providências ao procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio

Johnny Morais/Futura Press/Folhapress

Familiares dos cinco jovens protestaram exigindo respostas para a execução e a punição dos responsáveis

São Paulo – Movimentos de defesa dos direitos humanos protocolaram hoje (10) uma representação no Ministério Público paulista pedindo que a instituição acompanhe a investigação das execuções de cinco jovens da zona leste de São Paulo, cujos corpos foram encontrados em Mogi das Cruzes, no último domingo (6). O documento foi encaminhado ao procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, também com pedidos de uma reunião com as organizações signatárias e que o MP tome todas as medidas cabíveis para apoio e reparação às famílias.

As entidades ressaltam que outros casos já encaminhados ao MP permanecem sem resposta, como as denúncias sobre o assassinato de jovens motoboys em 2009 e 2010; o dossiê elaborado pela Uneafro Brasil e o Comitê contra o Genocídio da Juventude Negra em 2011 e 2012; e os chamados “Crimes de Maio”, quando ao mesmo 505 pessoas foram assassinadas em maio de 2006, durante o restabelecimento da ordem, após os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Em todos os casos há indícios da participação de policiais.

“Chacinas e mortes de jovens negros vêm se sucedendo no estado de São Paulo, o que vem sendo denunciado exaustivamente pelos movimentos sociais e entidades atuantes em defesa dos direitos humanos, de negros, indígenas e da população pobre em geral. Muitos desses casos são públicos e notórios. Infelizmente, os cinco mortos na zona leste não são casos isolados”, argumentam as entidades. “Não queremos que o caso dos cinco jovens fique impune ou que as famílias não recebam reparações”, completam.

Segundo reportagens da Ponte Jornalismo, foram encontradas no local onde estavam os corpos munições calibre.40, de uso restrito das polícias. O lote da munição foi adquirido pela Polícia Militar paulista. Além disso, os policiais que abordaram os jovens fizeram consultas a seus históricos naquela noite de sexta-feira.

No entanto, em entrevista à Folha de S.Paulo, o secretário da Segurança Pública paulista, Mágino Alves Barbosa Filho, disse que nenhum policial está sendo investigado no caso dos cinco jovens executados e que há “preconceito em relação ao policial”. “De concreto mesmo, não tem nada que ligue a morte desses jovens (encontrados mortos nesta semana em Mogi das Cruzes) a organismos policiais”, disse Mágino à Folha.

No dia 21 de outubro, Jonathan Moreira Ferreira, de 18 anos; César Augusto Gomes Silva, de 19; Caique Henrique Machado Silva, 18; Robson Fernando Donato de Paula, 16, que é cadeirante, e Jones Ferreira Januário, 30, contratado pelos jovens como motorista, se dirigiam a uma festa em Ribeirão Pires. Eles deviam voltar no sábado, mas desapareceram. Os jovens tinham passagens pela polícia e há informações de que estariam sendo ameaçados por policiais em virtude da morte de um agente.

Na sexta, um dos jovens enviou um áudio pelo celular para um membro da família dizendo que estavam sendo abordados pela polícia no Rodoanel. “Ei, tio. Acabo de tomar um enquadro ali. Os polícia tá me esculachando”, dizia. Os próprios familiares encontraram o carro de Januário abandonado no Rodoanel, no domingo (23).

As investigações estão sendo conduzidas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas ainda não há pistas dos executores. Os policiais que abordaram os jovens foram ouvidos na condição de testemunhas. Dentre as signatárias do documento estão o Movimento Mães de Maio, a Uneafro, a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direto e as Brigadas Populares, entre outras entidades.