‘Justiça foi feita pela metade’, diz advogado sobre julgamento em Marabá

Advogado da Comissão Pastoral da Terra avalia que absolvição de acusado de ser mandante do assassinato dos extrativistas no Pará obedece a poder político-econômico da região

Manifestantes mostram indignação com julgamento que absolveu mandantes de crime contra líderes extrativistas, no PA (©Tarso Sarraf/Folhapress)

São Paulo – Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o advogado da Comissão Pastoral da Terra João Batista Afonso, que atuou como assistente de acusação do Ministério Público no julgamento dos responsáveis pelo assassinato do casal de extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, disse que o resultado do julgamento representa a “justiça feita pela metade”. Ele afirmou que vai recorrer da decisão. “Vamos entrar com recurso de apelação, no Tribunal de Justiça do estado e requerer o anulamento do julgamento em relação à absolvição do acusado de mandante do crime.”  

“Com a decisão dos jurados de absolverem o acusado de ser o mandante do crime ficou para toda a sociedade e para os movimentos sociais a sensação de uma justiça incompleta, pela metade”, disse. Os extrativistas foram assassinados a tiros em 24 de maio de 2011 em Nova Ipixuna, cidade próxima a Marabá.

O acusado de mandante do crime, José Rodrigues Moreira, foi considerado inocente, enquanto os executores Alberto Lopes Nascimento e Lindonjonson Silva Rocha foram condenados. “Infelizmente, essa condenação contribui para que a violência continue existindo no campo”, disse.

Afonso explicou que o poder político e econômico colabora, muitas vezes, para que acusados de crimes não cheguem “nem aos bancos dos réus”. “Foram poucos casos em que isso, de fato, aconteceu. E mesmo quando a gente consegue levar essas pessoas para serem julgadas, temos dificuldade com a condenação, porque o crime de mando é um crime mais difícil de comprovar do que a execução”, afirmou.

Afonso disse ainda que a causa principal, que teria dado origem aos assassinatos, ficou em aberto, já que as provas, de acordo com ele, são claras e reveladoras. “Nos autos está tudo bem comprovado com provas testemunhais. Infelizmente, os jurados não entenderam assim.” 

Ouça a entrevista completa:

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