Iniciada busca por desaparecidos da ditadura do Cemitério de Vila Formosa, em SP

Estrutura que pode ser um depósito de ossos será aberta até o fim de novembro

Cemitério passou por processos de descaracterização, com mudança na localização dos túmulos, plantio de centenas de árvores sobre covas e alteração na disposição das quadras (Foto: Serviço Funerário/Divulgação)

São Paulo – Foram iniciados os trabalhos de busca pelos restos mortais de dez desaparecidos políticos da ditadura militar (1964-85) no Cemitério de Vila Formosa, na zona leste de São Paulo. O Ministério Público Federal e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEDMP) fecharam parceria para realizar o trabalho, que a Rede Brasil Atualhavia antecipado em julho deste ano. Além do órgão vinculado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a Polícia Federal e o Instituto Médico Legal de São Paulo estão envolvidos no trabalho.

Já se sabe que entre os corpos está o de Virgílio Gomes da Silva, conhecido como Comandante Jonas, responsável pela organização política do sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Elbrick, em 1968. A apuração começou com documentos obtidos pela família de Virgílio que apontam o número da quadra em que ele havia sido enterrado, em 1969.

O problema maior é que o cemitério passou por processos de descaracterização, com mudança na localização dos túmulos, plantio de centenas de árvores sobre covas e alteração na disposição das quadras. Inicialmente, será necessário identificar o desenho original de duas quadras no cemitério para localizar e exumar os corpos.

Tentando evitar uma mudança ainda maior no local em que podem estar os corpos, o Ministério Público já havia solicitado ao Serviço Funerário Municipal que interrompesse qualquer atividade em duas quadras do cemitério.

Como havia sido informado à Rede Brasil Atual por antigos funcionários, corpos de desaparecidos políticos eram apresentados como de indigentes, que chegavam ao local em grandes caminhões. Agora, uma antiga quadra que havia sido descaracterizada será objeto de escavações e perícias. Inicialmente, foi removido pela Prefeitura de São Paulo um canteiro sob o qual pode estar oculto um depósito de ossos. Um equipamento digital já permitiu identificar que há, de fato, uma estrutura sob a terra, com três metros de largura e três de comprimento. A expectativa é realizar a abertura até a última semana de novembro.