Preconceito contra nordestinos precisa ser combatido, diz vereador

São Paulo – Em ato de desagravo aos nordestinos realizado na Câmara de Vereadores da capital paulista, na noite da quinta-feira (11), lideranças políticas, sindicais, religiosas e populares repudiaram manifestações […]

São Paulo – Em ato de desagravo aos nordestinos realizado na Câmara de Vereadores da capital paulista, na noite da quinta-feira (11), lideranças políticas, sindicais, religiosas e populares repudiaram manifestações ofensivas aos nordestinos em São Paulo. As dezenas de entidades populares subscreveram um manifesto contra o preconceito que alerta para o perigo da banalização de prática de discriminação racial e incitação ao ódio de classe, de etnia ou de origem regional entre parcelas da sociedade brasileira. 

O proponente da ação, o vereador e sociólogo Francisco Chagas (PT-SP), abordou a origem do preconceito como resultado da ignorância, de julgamentos precipitados e do medo em relação ao que não se conhece. “Não podemos acabar com o preconceito. É uma condição humana pela ignorância, pela ausência de conhecimento e pelo estranhamento do desconhecido”, afirmou.

O parlamentar ressaltou que diante do preconceito, não cabe mais preconceito, nem violência, principalmente em relação a estudante de direito Mayara Petruso, que publicou em seu perfil no Twitter ataques aos nordestinos, logo após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais. Depois da manifestação dela, centenas de outros comentários preconceituosos foram também publicados por outros usuários. Por isso, o vereador defendeu que a discussão não ficasse restrita à personagem. “Ela é vítima de uma mentalidade preconceituosa”, analisou.

De acordo com o vereador, a sociedade precisa estar atenta para evitar que sentimentos e manifestações deste tipo tomem conta do país. “O grande legado que nos cabe aqui é o aprendizado da história que nos remete a episódios que não podem ser repetidos e que nos deixa atentos a cada momento”, apontou. “Manifestações xenofóbicas e racistas não contribuem efetivamente para a sociedade e precisam ser combatidas cotidianamente”, pediu.

Na ótica do Padre Valdiran Ferreira, responsável pela Pastoral do Imigrante em São Paulo, o preconceito contra nordestinos fere a dignidade da pessoa humana. O religioso citou a Constituição para lembrar que “somos todos iguais perante a lei”. “Nós da pastoral do imigrante somos contra qualquer coisa que venha a denegrir a dignidade da pessoa humana”, disse. “Também não somos a favor da violência, ou de qualquer manifestação  que traga a divisão, o racismo, o preconceito e o desrespeito aos (que são) diferentes”, manifestou padre, que pediu ações pela força da lei, jamais pela violência.

Ítalo Cardoso, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, acredita que o preconceito só se expressa quando se sente amparado. A campanha eleitoral e a imprensa instigaram, em sua opinião, e deram vazão a atitudes preconceituosas, avalia. “Acordaram a ‘besta’, como sinônimo da ignorância, do preconceito, da discriminação”, conceituou.

Para os vereadores Cardoso e Alfredinho, ambos do PT-SP, o baixo nível da campanha eleitoral de 2010 contribuiu para acirrar ânimos e despertar o preconceito contido em parte da sociedade. “Numa campanha eleitoral que quiseram ganhar a qualquer custo, tentaram provocar uma guerra religiosa. A partir daí surgiram manifestações preconceituosas contra vários grupos”, analisa Alfredinho.  O parlamentar cobrou legislações mais duras do Judiciário sobre ações nas redes sociais. 

Ele alerta que é preciso identificar a quem interessa disseminar ofensas e preconceito na população brasileira. “Hoje são nordestinos, depois mulheres, negros, orientais, judeus… Por isso, essa é uma luta antes de mais nada de direitos humanos”, defendeu.