new cities summit 2013

Megaeventos são oportunidade para cidades investirem em solução de problemas sociais

Consenso entre palestrantes de evento realizado no Parque do Ibirapuera é que não se pode culpar o preparo para Copa do Mundo e Olimpíadas, por exemplo, pelos problemas crônicos das cidades

CDC Arquitetos/Divulgação

Itaquerão, estádio previsto para sediar a abertura da Copa do Mundo 2014, terá 60 mil lugares

São Paulo – Não se pode culpar o preparo para megaeventos pelos problemas crônicos das cidades. Essa foi a conclusão do painel que debateu na tarde de hoje (5) as implicações da realização de eventos como Copa do Mundo, Olimpíadas e grandes exposições, no segundo dia do New Cities Summit 2013, encontro que discute os problemas da cidade moderna e o desenvolvimento sustentável. Consenso entre os palestrantes do evento, que está sendo realizado no auditório do Parque do Ibirapuera, é que se deve aproveitar esse tipo de evento como oportunidade para investir na solução dos problemas urbanos e sociais.

A vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, considera que receber o grande evento não é uma possibilidade de afirmação, mas a confirmação de que o país atingiu um novo patamar. “O país tirou 30 milhões de pessoas da miséria sem Copa do Mundo. Estamos vivendo um novo momento do mundo e do Brasil. Devemos aproveitar a oportunidade e fazer mais”, afirmou. Para ela, não se pode se apegar somente aos problemas para decidir fazer ou não um grande evento. “Desigualdade há no mundo inteiro, nem por isso se deixou de fazer grandes eventos em outros lugares”, ponderou.

No entanto, Nádia ponderou que é preciso se perguntar se a cidade suporta o megaevento e que legado este vai deixar, antes de aceitar realizá-lo, mas que problemas sempre haverá. “Não se pode esperar a redenção dos problemas de uma cidade a partir de uma Copa do Mundo, mas também não se pode responsabilizar o evento por todos os problemas”, disse.

São Paulo é cidade-sede e palco de abertura da Copa do Mundo de 2014 e candidata a receber a Expo2020, evento mundial de exposição que reúne milhares de pessoas do mundo todo a cada cinco anos, cuja última edição foi realizada em Xangai, na China, em 2010 e a próxima será em Milão, na Itália, em 2015.

O reitor do Instituto de Artes e Humanidades da Universidade de Shanghai, Liu Kang, afirmou que não se pode pensar apenas nos ganhos financeiros e estruturais ou nos problemas de um megaevento. “A imensidão do evento, o espaço na mídia mundial, a possibilidade de ter sua cultura divulgada para a população de inúmeros países deve ser considerada. O mundo é ‘eurocentrado’ e realizar esse tipo de atividade em países como China, Índia e Brasil é importante para exportar essas culturas, mostrar essas nações ao mundo”, disse.

Para o líder em relações com governos locais e cidades globais da empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), Hazem Galal, as questões que se colocam nos grandes eventos são próprias dos países. Ele citou como exemplo os aeroportos brasileiros, que sofrem uma crise de infraestrutura. “A condição econômica da população melhorou e ela quer viajar de avião. Isso é uma coisa que precisa ser melhorada pelo bom desenvolvimento do país e não por conta de algum evento específico”, afirmou, acrescentando: “Ninguém obriga a cidade a receber um megaevento”.

Para o diretor executivo da General Eletric (GE), Daniel Meniuk, cada cidade precisa pensar no seu desenvolvimento e em como pode aplicar recursos destinados à realização do evento em melhorias urbanas ou sociais. “Pequim investiu na questão da moradia porque a cidade previa receber milhares de novos residentes oriundos de outros pontos do país. Londres aplicou em revitalizações urbanas de áreas degradadas”, disse. Para o executivo, o importante é ter cuidado com a forma como se realizam as obras, para que não se deixe a urgência interferir na qualidade do que vai ser feito.

Voz dissonante no debate, a diretora de Direitos Humanos da Fundação Ford, Letícia Osório, mostrou-se extremamente preocupada com a forma como as cidades têm agido para garantir o cenário para os megaeventos. “No Rio, as Olimpíadas têm sido catalisadoras de grandes problemas”, afirmou. Ela enumerou problemas de uma cidade onde 40% da população vive em áreas carentes de infraestrutura ou em favelas. “Os investimentos têm se concentrado em áreas ricas. Aos pobres restam as remoções, sem saber para onde vão ou como. Até a ONU pediu que o Brasil tivesse cuidado com esse processo”, afirmou.

O New Cities Summit 2013 reúne cerca de 800 lideranças, sendo 90 palestrantes de 37 países, para discutir o desenvolvimento sustentável das cidades. Participam representantes dos setores governamental, empresarial, acadêmico e de organizações não governamentais. O evento, que começou ontem, segue até amanhã.