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Douglas Belchior: filiação ao PT é ‘convite’ ao partido na luta antirracista

“É o convite do movimento negro ao PT, para que ele corresponda às expectativas da maior parte da população brasileira”, disse o ativista

Gabriel Paiva/agpt
Gabriel Paiva/agpt
Além de música e apresentações culturais de raízes africanas, o ato no Oficina contou com a participação de lideranças do PT, como Gleisi e Haddad

São Paulo – “Estamos aqui em nome dos que morreram na travessia, daqueles que se rebelaram em cada quilombo, em nome das mulheres que na cozinha envenenavam seus senhores, daqueles que organizavam rebeliões nas senzalas.” A fala é do historiador Douglas Belchior. O ativista antirracista, fundador da UNEafro e articulador da Coalizão Negra por Direitos, se filiou ao PT ontem (7) à noite, em ato realizado no Teatro Oficina, na região central de São Paulo.

Após anos de atuação no Psol, onde enfrentou discordâncias sobre protagonismo negro, Douglas Belchior decidiu migrar para o PT. O ato de filiação do historiador também marcou sua pré-candidatura à Câmara nas eleições de 2022. “Considero que isso aqui é um convite. Não é o movimento de um militante do movimento negro que se filia ao PT. É o convite do movimento negro ao PT, para que ele corresponda às expectativas da maior parte da população brasileira”, disse.

Antirracista de ontem e hoje

Além de música e apresentações culturais de raízes africanas, o ato no Teatro Oficina contou com a participação de lideranças do partido, como o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Fernando Haddad e a presidenta nacional da legenda, a deputada Gleisi Hoffmann (PR). Também foram enviadas mensagens de lideranças negras essenciais da história do PT, como a ex-senadora e ex-governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, hoje deputada federal. Além dela, Vicentinho, ex-presidente da CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, hoje também deputado federal, enviou suas boas-vindas.

“A luta libertadora para fazer com que os trabalhadores tenham seus direitos é uma luta que, no Brasil, só tem sentido se for uma luta antirracista (…) porque a maioria do povo brasileiro é preta, pobre, trabalhadora e é mulher”, disse Gleisi. Ela lembrou que, nas últimas eleições, no ano passado, mais da metade do quadro de vereadores eleitos pelo PT foram de homens e mulheres negras.

Benedita, por sua vez, saudou a luta de Douglas Belchior. “É uma honra recebê-lo como todo esse movimento de negros e negras que estão fazendo a diferença neste país. Você, como um homem que tem dedicado a sua vida ao nosso processo de independência, de democracia e de  liberdade, saberá como ninguém somar a esse grande projeto e continuar fazendo a diferença.”

Palmares de novo

A coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU) e presidente da CUT-GO, Iêda Leal, também filiada ao PT, apontou para um futuro positivo a partir da possível eleição de Douglas para o Congresso. “O exercício vai ser eleger homens negros e mulheres negras, LGBTs e trans negros no país todo, porque a gente quer modificar o Planalto no sentido de colocar pessoas que possam nos ajudar a, de fato, construir uma democracia, como Zumbi e Dandara. Nós faremos Palmares de novo”, disse.

Por fim, Haddad disse aceitar os desafios propostos por Douglas no sentido de dar o valor devido à importância da questão racial e da luta contra o racismo estrutural no Brasil. “Nós temos de assumir um compromisso com vocês, e viemos fazer isso de público. E isso tem que se traduzir em políticas públicas, em caminhos para os nossos irmãos brasileiros enxergarem no país a sua representatividade (…) É para isso que você vai estar conosco. Vem com garra, vem com força, porque o Brasil vai mudar muito mais nesta década do que mudou na primeira década deste século”, declarou.