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Exposição de fotos sobre protestos de junho em São Paulo volta a ser depredada

É o segundo ataque neste mês contra obras que questionam a repressão e a violência. Antes, exposição em memória a vítimas da ditadura havia sido parcialmente destruída

Alexandre Moreira/Brazil Photo Press/Folhapress

Das 26 imagens que compõem a exposição, 24 foras destruídas ou pixadas

São Paulo – Uma exposição de fotografias dos protestos de junho, que estampava as paredes externas do Cemitério do Araçá, na avenida Doutor Arnaldo, região central da cidade, foi depredada durante a madrugada de hoje (19). Das 26 fotos, 24 foram rasgadas ou pichadas com dizeres como “Viva a PM”, “Fora comunas” e “White block”. Para Keiny Andrade, membro do grupo Foto Protesto SP, que organizou a montagem, a ação é obra de grupos conservadores que temem as mudanças defendidas pelos manifestantes.

“Para mim tem a ver com essa direita fascista e reacionária que não aceita o direito de manifestação. É claro que existe aqui um povo reacionário e elitista que ajuda a manter o poder instituído em São Paulo há muitos anos. Isso fica notório no tipo de frase que foi escrito lá”, afirmou Andrade.

O fotógrafo contou que nas outras duas montagens não houve ações de vandalismo tão explicitas contra as obras. “Mas a rua é de todo mundo, todos podem se manifestar. Até eles, dessa maneira”, avaliou Keiny. O grupo ainda não decidiu se vai recompor as imagens destruídas.

O Primeiro Ato, como foi chamada a ação anterior, foi realizado em 10 de setembro, nos mesmos muros do cemitério. No Segundo Ato, as imagens foram levadas às paredes da Estação da Luz. Em ambos, as fotos foram depredadas ou removidas poucos dias depois.

O Terceiro Ato da exposição havia sido montado ontem (18). No total, são 26 imagens dos manifestantes e de ações truculentas da Polícia Militar, captadas por fotógrafos profissionais e amadores.

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No dia 3 de novembro, a exposição Penetrável Genet, também no cemitério do Araçá, foi atacada e depredada. A obra era composta por um labirinto de monólitos de mármore espírito santo (só encontrado no Brasil) e também “personagens” da instalação com 2,4 metros de altura, 1,20 metro de largura e 40 centímetros de espessura, e iam até o ossário central. A intervenção é dedicada aos desaparecidos políticos da ditadura (1964-1985).

No local estão 1.046 ossadas encontradas no início dos anos 1990 em uma vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, em Perus, região noroeste da capital. Entre estas estão restos mortais de desaparecidos políticos e vítimas do Esquadrão da Morte.