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Belchior: ‘60% dos deputados que apoiam redução da maioridade penal são investigados’

Militante de movimento negro diz que parlamentares da CCJ alvo de investigações criminais formam contradição no processo de tramitação do projeto de redução da maioridade penal

reprodução/TVT

‘Menos de 1% dos crimes são cometidos por adolescentes e, dos homicídios, apenas 0,5%’, destaca advogado

São Paulo – Douglas Belchior, militante da União de Núcleos de Educação Popular para Negros e Classe Trabalhadora (Uneafro), diz que a maior parte dos parlamentares da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara que apoiam a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos são investigados por crimes. “A gente acabou de viver a negação da inadmissibilidade do projeto de lei e de emenda constitucional por um grupo de deputados onde 60% daqueles que derrubaram a inadmissibilidade tem problemas na Justiça e respondem por crimes”, afirmou Belchior ao Seu Jornal, da TVT.

Para Belchior, esse fato marca uma grande contradição em torno desse processo. Em seu blog, ele também chama atenção para o problema. Belchior afirma que a sociedade deve se perguntar se quer apostar em justiça ou em vingança. “Se a opção é construir justiça, igualdade social, nós precisamos investir em educação e promover políticas públicas de inclusão e valorização do jovem, como alguém que pode reconstruir a sociedade brasileira e melhorar o seu futuro”.

Lugar de criança é presa na escola. Sou a favor do aumento da maioridade escolar. Esse é o título do mais recente poema do escritor Sérgio Vaz, ao abordar a polêmica de punir com prisão os jovens infratores a partir de 16 anos. Especialistas ouvidos pelo Seu Jornal são categóricos: reduzir a idade penal não vai diminuir a criminalidade.

Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, a participação de jovens menores de 18 anos em crimes é quase inexpressiva. Por isso, para o advogado Ariel de Castro Alves, a redução da maioridade penal é um retrocesso.

“Menos de 1% dos crimes são cometidos, no Brasil, por adolescentes e, dos homicídios, apenas 0,5%. Colocar adolescentes num sistema prisional completamente falido, superlotado, muitas vezes dominado por facções criminosas só vai aumentar a violência”, alerta o advogado.

Para ele, as atuais medidas socioeducativas, que já podem ser aplicadas a partir dos 12 anos de idade, são punições suficientes e bastante rigorosas.

O advogado afirma que é deturpado o discurso de que a atual punição para menores infratores é branda: “O adolescente, muitas vezes, quando cumpre internação nos casos de roubo, fica, em média, entre dois anos e dois anos e meio cumprindo pena, enquanto um adulto que tenha menos de 21 anos de idade, seja primário e com bons antecedentes, pode cumprir um ano e meio de privação de liberdade nas prisões e conseguir a progressão da pena para o regime semiaberto, logo em seguida.”

Depois de aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça, a proposta de redução da maioridade penal ainda vai passar por um longo caminho de análises e sessões, na Câmara dos Deputados e no Senado.

Representante do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (Conanda), Fábio Paes diz que essa medida punitiva pode levar à redução de outros direitos sociais.

“Há um risco enorme. Se a redução for aprovada realmente, outros direitos, provavelmente, também serão reduzidos. Estamos falando de pautas LGBTs, estamos falando de pauta de trabalhadores e outros grandes temas que podem vir nesta corrente conservadora, muito presente, hoje, na nossa sociedade.”

Assista a reportagem completa do Seu Jornal, da TVT: