Tragédia bolsonarista

Empresário que matou policial em São Paulo era CAC e tinha antecedentes por homicídio e agressão

Uma das armas apreendidas com Rogério Saladino também estava irregular, segundo o B.O. “Ele não podia usar ela para atirar, nem fazer o que ele fez”, contestou delegado. Nas redes, crime ganha repercussão como “resumo do bolsonarismo”

Reprodução/Instagram
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"Um homem que queria usar sua arma, matou e morreu. Era pra isso que queriam e querem armar o Brasil?", questionou a cantora Zélia Duncan

São Paulo – O empresário Rogério Saladino, que no último sábado (16) matou a tiros uma policial civil, tinha o registro de Caçador, Atirador e Colecionador de Armas, o chamado CAC, apesar de já ter respondido, no passado, por homicídio, agressão e crime ambiental. O assassinato ocorreu em frente à sua mansão em São Paulo, no Jardins, bairro de classe média alta na região central da capital paulista.

Na ocasião, Saladino disparou contra a investigadora do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) Milene Bagalho Estevam, de 39 anos. Considerada uma das melhores policiais na área, Milene buscava pista de criminosos que haviam invadido uma casa e furtado um veículo e pertences na região um dia antes. Acompanhada por um colega, eles usavam distintivos da Polícia Civil e se identificaram como investigadores para moradores das residências vizinhas a quem pediram imagens de câmeras de segurança para checar se elas haviam gravado os bandidos.

Ao verem o vigilante particular Alex Mury em uma moto, os investigadores pediram para ele também vídeos da câmera da mansão de Saladino. Ele entrou no imóvel, falou com um segurança da guarita, que por sua vez pediu que o dono da residência fosse avisado. Rogério, por sua vez, foi até a guarita, que é blindada, viu os dois agentes, mas desconfiou que eles não fossem policiais.

Arma irregular

Nesse momento, de acordo com a Polícia Civil, o empresário deu tiros para o alto em forma de advertência. E, em seguida, abriu o portão eletrônico da mansão e saiu atirando em Milene, que sequer teve tempo de sacar a arma e reagir. No confronto, o colega da investigadora reagiu e atirou contra Saladino e o vigilante. O patrão e o funcionário não resistiram e morreram. Já o investigador não foi ferido e sobreviveu.

Na mansão, o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apreendeu quatro armas para serem periciadas: duas que estavam com os policiais e outras duas que eram do dono da mansão. Segundo a Polícia, Rogério Saladino tinha autorização para ter armas em sua casa, já que era CAC. No entanto, o boletim de ocorrência do caso mostra que uma delas, uma pistola calibre .45, estava irregular.

“Ele (empresário) tem três armas que estão no Sinarm (Sistema Nacional de Armas), que são armas que você compra de uso permitido, e são registradas na Polícia Federal (PF). E ele tem mais algumas armas. Ele é CAC. Tanto é que a .45 que ele vitimou a Milene ela era de CAC. Era uma arma que tava registrada, mas que é de uso como colecionador. Ele não podia usar ela pra atirar, nem fazer o que ele fez”, afirmou à imprensa o diretor do Deic, o delegado Fábio Pinheiro Lopes.

Passagens criminais

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) também informou que Rogério tinha passagens criminais anteriores pela polícia por “homicídio, lesão corporal e crime ambiental”. Ele respondeu por assassinato e agressão em 1989, quando chegou a ser preso por homicídio. E também já foi acusado de crime ambiental em 2008.

O caso deste sábado também foi registrado pela Polícia como “homicídio” e “morte decorrente de intervenção policial”. O policial civil que revidou os disparos não cometeu crime e agiu em legítima defesa, segundo o DHPP. Rogério era sócio do Grupo Biofast, uma empresa brasileira que desde 2004 atua no mercado de medicina diagnóstica entregando resultados de exames médicos para os setores público e privado.

Após a divulgação dos antecedentes do empresário, a família de Saladino rebateu duas acusações anteriores contra ele, mas não mencionou o caso de agressão. “Homicídio citado: trata-se de um atropelamento ocorrido na estrada de Natividade da Serra (SP) há aproximadamente 25 anos, uma fatalidade, no qual o empresário Rogério socorreu a vítima”, diz a nota. “Crimes ambientais citados: refere-se à retirada de cascalho pela prefeitura municipal de Natividade da Serra (SP), em terras de propriedade da família de Rogério. Existe um termo de compromisso ambiental cumprido”.

Tragédia bolsonarista

Nas redes sociais, internautas destacaram a tragédia como um “resumo completo do bolsonarismo”. Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022, mais de um milhão de armas foram registradas. No total, 1.354.751 novos armamentos entraram em circulação nesse período, segundo dados colhidos por meio da Lei de Acesso à Informação, analisados pelo Instituto Sou da Paz e Instituto Igarapé.

Isso porque Bolsonaro foi o responsável por flexibilizar a circulação de armas para os CACs. Na prática, um dos decretos liberou o porte de arma de fogo municiada e carregada no caminho entre o local de guarda autorizado e os de treinamento, instrução, competição, manutenção, exposição, caça ou abate. O que permitiu aos CACs a circulação nas ruas com o porte de armas, que era restrito apenas a algumas categorias. Com isso, a quantidade de armas registradas por CACs chegou a 1 milhão, um aumento de 65% em relação ao número em circulação em 2018: 350 mil.

Confira a repercussão:

(*) Com informações do g1