São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entregou, nesta sexta-feira (3), 1.440 unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, em Rondonópolis, Mato Grosso. Sob fortes gritos de apoio, Lula participou da cerimônia de entrega das chaves das casas e ouviu uma série de relatos emocionados de beneficiários do programa. 

“É uma emoção muito grande receber essa chave. Só de saber que estou pagando uma coisa que é minha e vai ficar para meu filho é uma emoção muito grande. Agora vou sair do aluguel, pagar uma faculdade, vou melhorar minha vida”, descreveu uma moradora. Ao lado da primeira-dama Janja Lula da Silva, o presidente deu a primeira chave a Ellen Cristina da Silva Rocha, que afirmou ter esperado 10 anos pela construção. 

A obra teve início ainda no governo de Dilma Rousseff (PT), em 2013, mas parou em 2017. Segundo o ministro das Cidades, Jader Filho – ligado ao MDB – a empresa responsável, por questões econômicas, não deu prosseguimento à construção, só retomada em 2018. Lula, no entanto, afirmou que a paralisação foi consequência do impeachment que derrubou a presidenta em 2016. 

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Dilma é ovacionada

“Eu estou aqui alegre e triste. (Triste) porque esse conjunto já era para ter acabado. Vocês se lembram do golpe que deram na presidenta Dilma para tirá-la do governo? Que inventaram uma coisa chamada ‘Ponte para o Futuro’, e precisava tirar a Dilma para esse país crescer?”, provocou Lula. O presidente referiu-se ao nome “programa” divulgado pelo então PMDB de Michel Temer para justificar o rompimento com Dilma.

Eu vou dizer o que aconteceu. Esse conjunto, que era para ter sido inaugurado em 2014, está sendo inaugurado em 2023 exatamente pelo presidente do PT, que começou a construir essas obras. E aqui ainda tem mais dois conjuntos paralisados e agora em março vamos dar ordem de serviço para os dois”, anunciou Lula. 

A informação foi confirmada pela presidenta do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, que também acompanhou o evento. “Vamos reforçar o acesso à casa própria para quem mais precisa.” O conjunto habitacional recebeu o nome de Residencial Celina Bezerra, em homenagem à mãe do ex-governador e ex-senador Carlos Bezerra. 

O empreendimento foi saudado pelo prefeito de Rondonópolis, José Carlos Junqueira de Araújo, o José Carlos do Pátio (PSB). Apoiador de Lula nas eleições em 2022, ele justificou que, só na cidade, mais de 30 bairros e 20 mil casas foram construídos pelos governos do PT. “Quero fazer aqui uma homenagem à presidente Dilma que também ajudou essa cidade. Ela trouxe 17 creches, a escola técnica federal e continuou todos os projetos de governo do senhor”, comentou o prefeito. 

Creche Arthur Araújo Lula da Silva

Pátio ainda anunciou que o novo conjunto habitacional, que vai contar com equipamentos públicos, como escolas, unidades básicas de saúde, centro esportivo, também terá creches. Uma delas receberá o nome de Arthur Araújo Lula da Silva, o neto do presidente da República, morto em 2019, aos 7 anos. Na época, Lula estava detido na Superintendência da da Polícia Federal de Curitiba e teve que acompanhar o velório sob forte escolta. Ao receber a notícia, o presidente chorou e foi amparado pela população no local,

“Você é um cara muito importante para nós. Se você não trouxesse nada para Mato Grosso, nada para Rondonópolis, para o Brasil, (não seria). Mas o senhor tem uma coisa que todos amamos, a democracia, olha o (povo indígena) Bororo, o povo Xavante, quilombola que está aqui”, apontou o prefeito para a diversa platéia. 

O evento desta sexta, contudo, também contou com a participação de lideranças bolsonaristas, como o senador Welligton Fagundes (PL-MT) e o governador Mauro Mendes (DEM). Ambos foram vaiados pela população que acompanhava o ato. Lula, contudo, rejeitou o discurso de rivalidade, e destacou ter um “compromisso de restabelecer a fraternidade no país”. 

Diálogo em reduto bolsonarista

Em Rondonópolis, Bolsonaro ficou à frente de Lula, com 65% dos votos da cidade, contra 35% do petista. “A disputa eleitoral terminou em outubro. E quando eu venho em um estado eu não quero saber se o governador foi contra mim ou a favor, de qual partido ele é. Eu tenho que saber se ele está eleito e que tenho que trabalhar junto com ele. (…) A democracia exige a nossa convivência mesmo na adversidade”, discursou o presidente.

O petista, porém, ressaltou as contradições sociais no estado que é polo do agronegócio na região Centro-Oeste. Embora líder em exportação de carne bovina, foi em Mato Grosso que viralizou a primeira imagem de uma mulher recolhendo ossos em açougue para se alimentar. 

Ele ainda brincou que as casas do Minha Casa, Minha Vida precisam ter “churrasqueira” após sua vitória e provocou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Conhecido como estado reduto bolsonarista, Mato Grosso não fez parte da rota visitada por Lula na campanha. 

“O preço da carne caiu 15%. (…) Vai levar um tempo para consertar esse país, não é uma coisa tão fácil, pegamos um país destruído. Eles acabaram com tudo. Eu sou capaz de oferecer um prêmio para qualquer pessoa de Rondonópolis, do estado do Mato Grosso, que me dissesse um metro de obra que o Bolsonaro fez aqui. Eu duvido, porque eu ando o Brasil inteiro e a única que eu sei que ele inaugurou foi uma ponte em São Gabriel da Cachoeira de 18 metros de madeira”, ironizou Lula. 

Apenas no município, o governo Lula também prevê a entrega de mais 1.152 casas. Em fevereiro, 2.745 casas do MCMV foram também entregues na Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Paraná. 

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