Nenhuma a menos!

Em defesa das mulheres negras, indígenas e palestinas, milhares de pessoas marcham na Bahia e no Distrito Federal

Desde as primeiras horas deste 8 de março, mulheres do campo, das águas e das florestas realizam atos também no RN e MT, denunciando a violência contra seus corpos e territórios

Coletivo de Comunicação MST-BA
Coletivo de Comunicação MST-BA
Mulheres ocuparam um trecho da Avenida Paralela, no sentido aeroporto, uma das principais vias da capital baiana, nesta sexta (8)

São Paulo – Mulheres integrantes de coletivos, movimentos sociais e populares de Salvador ocuparam um trecho da Avenida Paralela, no sentido aeroporto, uma das principais vias da capital baiana, na manhã deste 8 de março, Dia Internacional da Mulher. De acordo com as manifestantes, ato foi convocado nesta sexta-feira (8) para denúncia e protesto contra as violências patriarcais que atingem os corpos e os territórios do estado.

Com faixas e cartazes, as ativistas lembraram do assassinato da líder indígena Maria de Fátima Muniz, conhecida como Nega Pataxó. Ela foi vítima de um ataque de ruralistas no território Caramuru-Catarina Paraguassu, em Potiraguá, no sul da Bahia, em 21 de janeiro. O crime foi organizado em torno do grupo “Invasão Zero”. A perícia comprovou que o tiro fatal partiu da arma do filho de um fazendeiro, de 19 anos, que foi detido no local. Um policial militar aposentado armado também foi preso em meio ao conflito. Há suspeitas de que a PM tenha sido conivente com o ataque.

“A violência vem aumentando no campo, mobilizada, principalmente, a partir da atuação de grupos de milícias rurais organizadas pelo “Movimento Invasão Zero”, destacou a organização do ato. As mulheres também fizeram uma homenagem à memória da líder quilombola Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete. A ialorixá foi morta com 14 tiros, em agosto de 2023. Ela estava em sua casa, na comunidade quilombola Pitanga de Palmares, em Simões Filho, região metropolitana de Salvador. Há anos, ela lutava por seu território e já tinha perdido o seu filho, também assassinado.

Solidariedade às mulheres palestinas

“A luta continua sendo por terra e território, por reforma agrária popular e pela demarcação de territórios de comunidades tradicionais. Desta forma, as mulheres da Bahia continuam protestando pela demarcação dos territórios indígenas, quilombolas, bem como pela efetivação da Reforma Agrária Popular, garantindo a integridade das comunidades das águas, dos campos e das florestas”, afirmaram as manifestantes.

Durante o ato no #8M, elas chamaram atenção para o genocídio do povo palestino. Desde o início da nova fase do conflito entre Israel e Hamas, em 7 de outubro do ano passado, mais de 30 mil palestinos foram mortos. Sendo que a maioria das vítimas são mulheres e crianças. O massacre também foi pautado pelas mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). As trabalhadoras realizaram uma intervenção na embaixada de Israel, em Brasília, em defesa do povo palestino.

A ação integra a Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra que teve início nesta quinta (7) e se encerra hoje com ocupações pelo país. Entre elas, as agricultoras familiares do Rio Grande do Norte. Nessa quinta, o grupo ocupou a sede estadual do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Natal, e marchou pela manhã. “A luta é pelos nossos territórios e políticas públicas!”, bradaram.

Em defesa das trabalhadoras do campo e da cidade, mulheres do MST protestam pelo país

Violência de gênero

No Mato Grosso, mais de 200 mulheres do campo, das águas, das florestas e cidades foram até a Assembleia Legislativa, onde protestaram contra a atuação de deputados estaduais acusados por elas de “perpetuar a violência” de gênero. A manifestação faz referência ao Projeto de Lei (PL) 12.430/2024, de autoria do deputado Claudio Ferreira (PL), que “cria sanções aos invasores de propriedades privadas rurais e urbanas no Estado de Mato Grosso”.

Mulheres pautaram a inconstitucionalidade do Projeto de Lei 12.430/2024 de autoria do deputado bolsonarista (Foto: Vytoria Pachione, Cuiabá MT)

De acordo com as mulheres do MST, a legislação relativiza os direitos sociais historicamente conquistadas pela classe trabalhadora. E amplia a potencialidade dos conflitos e violência no campo e não resolve o problema dos trabalhadores precarizados que necessitam de políticas assistenciais. “(A lei) corrobora com a política fascista do Partido Liberal e com a comissão parlamentar, chamada de ‘Invasão Zero’, que em vez de resolver o verdadeiro problema de grilagem de terras no país, causado por latifundiários, criminaliza os trabalhadores que estão em luta pela terra”, explica o movimento.

A aprovação da medidas, ainda segundo as trabalhadoras rurais, explica também porque a maior alta na taxa de feminicídios foi registrada no Mato Grosso. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revelam que, no estado, ocorrem 2,5 assassinados de mulheres por discriminação de gênero a cada 100 mil habitantes. O total é superior à taxa nacional, de 1,4 morte por 100 mil mulheres.

Feminicídio cresce no país em 2023 e faz uma vítima a cada seis horas

Os atos em torno do #8M continuam ocorrendo ao longo da tarde. Confira a lista completa de manifestações confirmadas aqui.

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima