Resposta

Em ‘Diário de uma difamação’, Boaventura de Sousa Santos rebate acusações de assédio

Denúncias não citam nome de Boaventura nem detalhes de seus supostos atos. Ele apresentará queixa-crime contra autoras, que diz agirem por “vingança”

Vladimir Platonow/ABr
Vladimir Platonow/ABr
Boaventura afirma assumir "responsabilidades por eventual negligência que possa ter havido"

São Paulo – O jurista e sociólogo português Boaventura de Sousa Santos afirmou nesta quarta-feira (12) que apresentará queixa-crime contra autoras de acusação de assédio sexual. O intelectual, um dos mais respeitados da atualidade, afirmou que as acusadoras, três alunas do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, agiram por “um ato miserável de vingança”. As afirmações de Boaventura constam de uma mensagem distribuída a amigos, alunos, ex-alunos e funcionários do CES, intitulada Diário de uma difamação 1. Desse modo, ele sinaliza que suas respostas terão continuidade.

As estudantes do CES acusam Boaventura de Sousa Santos de ter “tocado no joelho” de uma delas. Na sequência, teria convidado a “aprofundar o relacionamento”. As demais falam sobre “abraços longos e excesso de familiaridade”. Em contrapartida, o diretor emérito da universidade diz ser vítima de “cancelamento” e de “vingança institucional”. Observa que seu nome não é citados nas acusações – o que seria uma proteção contra eventual ação judicial –, mas ressalta que a ação virá.

As supostas condutas foram expostas em um artigo do livro Sexual Misconduct in Academia – Informing an Ethics of Care in the University, ou Má conduta sexual na academia – para uma ética de cuidado na universidade, em tradução livre. As denunciantes são a portuguesa Catarina Laranjeiro, a norte-americana Myie Nadya Tom, e a belga Lieselotte Viaene. Elas não dão detalhes das ações de Boaventura, e referem-se a ele como “professor estrela”. A publicação do artigo foi de responsabilidade da editora britânica Routledge.

O CES, por sua vez, informa que abriu sindicância independente para averiguar os fatos. As denúncias extendem-se ao auxiliar de Boaventura Bruno Sena Martins, de 45 anos.

Contraponto

Além do texto divulgado nesta quarta, Boaventura concedeu entrevista ao periódico portugês Diário de Notícias sobre o caso. Ele argumentou que as estudantes “querem lançar lama sobre quem se distingue e luta por um mundo melhor”. Já na carta “Diário de uma Difamação”. Ele escreveu hoje de Santiago, no Chile, onde participa de evento literário. Inicialmente, chama as acusações de “vergonhosas e vis”.

Em um segundo momento, o sociólogo credita ao sistema acusatório a investigação do caso. “Quero afirmar que todos os casos de conduta incorreta referidos no texto por parte de quem seja, se confirmados, devem ser prontamente julgados tanto no CES como nas instâncias judiciais.” Boaventura também afirma assumir “responsabilidades por eventual negligência que possa ter havido”.

De acordo com o intelectual, ele nunca teve reuniões presenciais com duas das autoras, Myie e Catarina. Já com Lieselotte, foram dois encontros, segundo Boaventura, em que não ficaram sozinhos. Uma das reuniões, ele argumenta que teve relação com “problemas de comportamento incorreto e indisciplinado do ponto de vista institucional” da pesquisadora.

Boaventura cita suposta ementa de procedimento de 2018 sobre Lieselotte. O trecho do documento versa sobre possível demissão por justa causa da acusadora por má conduta. Dito isso, o sociólogo afirma que os ataques contra sua pessoa são “miserável vingança institucional e pessoal”. Em seguida, o sociólogo lembra de outros casos que envolvem atitude suspeita da pesquisadora. Então, ele afirma ser vítima de “intenção de assassinato de caráter que corresponde a um comportamento bem documentado na literatura”.

Leia íntegra do Diário de uma difamação 1, de Boaventura