São Paulo

Para tentar absolver réus do Carandiru, defesa usa tese já derrotada no Tribunal do Júri

Essa é a terceira etapa do julgamento. Quinze policiais do COE são acusados pela morte de oito dententos. Advogado acusa detentos de provocarem mortes causadas por arma de fogo

08.04.2013/Apu Gomes/Folhapress

Em março, estudantes fizeram homenagem aos mortos. Dessa vez, 15 policiais são acusados pela morte de 8 presos

São Paulo – O advogado Celso Vendramini que defende 15 policiais do Comando de Operações Especiais (COE) na terceira etapa do julgamento do Carandiru iniciado hoje (17), no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, acredita que seus clientes serão absolvidos. Vendramini irá argumentar que, antes mesmo de a Polícia Militar entrar no Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru, na zona norte de São Paulo, já havia aproximadamente 20 mortos no pavimento. “Os policiais entraram e fizeram disparo de bala de fogo, mas não dispararam em direção a quem quer que seja. Os presos atiravam neles e eles revidavam em direção aos clarões, mas nem eles (policiais) sabem se acertaram alguém”, disse.

O advogado disse que chegou à conclusão, após ler os 71 volumes do processo, de que um preso que estava no Pavilhão 9, conhecido como Benedito, delatou aos agentes penitenciários que armas estariam sendo enviadas para outro presídio, em Guarulhos. “Houve uma caguetagem para os agentes e essa rebelião foi debelada. Foi briga de quadrilhas, foi acerto de contas entre os presos”, declarou. Essa versão é diferente da defendida anteriormente, de que a briga generalizada entre os presos teria começado após uma discussão num jogo de futebol.

O Massacre do Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos e 87 ficaram feridos durante uma operação policial destinada a reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 do presídio. Ao menos 102 mortes teriam sido provocadas pela ação de policiais. Apenas aqueles policiais que admitiram terem usado armas de fogos foram levados a júri popular, em um julgamento dividido em cinco etapas.

Nessa etapa, a terceira, 15 policiais militares do COE – entre eles, três coronéis da Polícia Militar e um que ainda está na ativa – serão julgados pela morte de oito presos que ocupavam o quarto pavimento (ou terceiro andar) da antiga Casa de Detenção do Carandiru. Nas outras duas etapas, 48 policiais da Ronda Ostensiva Tobias Aguiar (Rota) foram condenadas pelas mortes de 65 presos, mas permanecem em liberdade aguardando fim da possibilidade de recurso.

Nas etapas anteriores, a tese da acusação de que mesmo não sendo possível individualizar a conduta de cada um dos policiais, todos os julgados concorreram para o desfecho do episódio, foi vencedora. A defesa dos policiais já julgados não conseguiu convencer os jurados de que os detentos possuíam armas capazes de produzir os ferimentos que levaram ao massacre. A maioria dos mortos apresentava ferimentos de bala à queima-roupa, na cabeça, nuca ou outras regiões letais. Uma série de erros da Polícia Civil, perícia e manobras da defesa dos réus impossibilitaram que as armas de todos os policiais envolvidos fossem analisadas, o que facilitaria a individualização.

Ainda hoje, as testemunhas de acusação, arroladas pelo Ministério Público, devem ser ouvidas. Inicialmente, seis pessoas foram chamadas, mas três não foram encontradas. Por isso, deverão ser ouvidos somente o ex-detento Marco Antônio de Moura, o perito Osvaldo Negrini Neto e o ex-diretor da Divisão de Segurança e Disciplina da Casa de Detenção do Carandiru Moacir dos Santos. Todos eles já foram ouvidos nas etapas anteriores do julgamento.

A expectativa do juiz é que amanhã sejam ouvidas as testemunhas de defesa. Só então os 15 réus serão interrogados. De acordo com o juiz, todos eles devem dar sua versão dos fatos diante do corpo do júri, composto por sete homens escolhidos em um sorteio nesta manhã.

Nas duas etapas anteriores, a maioria dos policiais preferiu não se pronunciar diante dos jurados. Apenas aqueles com altas patentes se dispuseram a responder perguntas da defesa e acusação.

Com informações da Agência Brasil