Ficção e realidade

Débora Silva, das Mães de Maio, tem prêmio de atriz coadjuvante em festival da Espanha

Para diretor Cristiano Burlan, misturar a mãe da ficção com a mãe real, a Débora do Mães de Maio, traz subjetividade maior para a história

Reprodução/TVT
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História de mães como Débora é inspiração para o filme protagonizado por Marcélia Cartaxo

São Paulo – A fundadora do movimento Mães de Maio Débora Silva ganhou prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Cinema de Málaga, na Espanha. O prêmio se deve ao seu papel no filme A Mãe, ficção baseada em histórias reais das periferias do país e que tem muito da vida real de Débora. O movimento Mães de Maio surgiu para denunciar os 505 assassinatos de civis cometidos por agentes de segurança nos chamados crimes de maio de 2006.

O diretor do filme, Cristiano Burlan, tem origem no Capão Redondo, no extremo sul da capital paulista. Ele perdeu um irmão com sete tiros disparados pelas costas por uma milícia supostamente formada por policiais militares. Mas o crime não foi investigado. Nas palavras dele, um filme não dá conta da realidade. Assim, misturar na ficção a mãe da ficção com a mãe real, a Débora do Mães de Maio, traz uma subjetividade maior para a história.

“Tem a ver com sensibilidade, antes de mais nada. A Marcélia (Cartaxo, atriz) ficou comovida pela história da Débora, e a Débora por sua vez se deixou comover pela história dessa personagem. Que é uma ficção, mas é tão real pra ela. Meu trabalho e da equipe foi simplesmente colocar a câmara no lugar certo e observar isso”, diz Burlan.

Confira reportagem de Girrana Rodrigues, da TVT

Na trama, Maria, personagem de Marcélia Cartaxo, é uma nordestina que vive na periferia que trabalha como camelô. Quando o filho desaparece, ela sai sozinha em busca de informações, e um traficante diz que ele foi morto pela polícia. Na corrida por justiça, ela encontra as Mães de Maio. Para Débora, essa primeira conversa entre as mães do movimento e as que precisam de ajuda se repetiu muitas vezes fora da tela.

“São mães que chegam mutiladas, sem rumo, e quantas mães não passaram pela mesma cena. É difícil segurar, porque você está absorvendo uma dor que você tem, e que só você sabe a dor daquela mãe. Débora teve o filho Edson Rogério da Silva, morto pela polícia em 15 de maio de 2006.

“Quando a gente chegou lá foi uma surpresa, a gravação dentro da favela. E aí a gente foi se sentindo em casa, era de quebrada para quebrada. A cara do Brasil que estava sendo mostrada.”