abuso no campus

CPI da USP convoca diretor, convida reitor e ouve primeiros depoimentos

Alunas relatam casos de abuso e acusam reitor de assédio moral, durante primeira sessão da CPI que investiga violações de direitos humanos nos campi das universidades paulistas

Cauê Fabiano/Vermelho

Estudantes da Faculdade de Medicina da USP protestam contra episódios de abuso sexual em trotes

São Paulo – Foi instalada nesta quarta-feira (17) a CPI que vai investigar as violações dos direitos humanos na Faculdade de Medicina na USP e demais faculdades e universidades do estado de São Paulo. A presidência da comissão ficou com o deputado Adriano Diogo, do PT, que propôs a criação da CPI. A vice-presidência ficou com Sarah Munhoz, do PCdoB, e a relatoria com Ulysses Tassinari, do PV.

Na primeira reunião da CPI da medicina da USP, foram aprovados 30 requerimentos, em um total de 50 pessoas a serem ouvidas. Um professor e duas alunas da USP prestaram depoimento. O diretor da Faculdade de Medicina da USP, José Otávio Costa Auler Júnior, será convocado. O reitor da universidade, Marco Antônio Zago, será convidado. O convite, e não a convocação, é para não criar uma indisposição acusatória logo no início. Mas, se não comparecer, Zago poderá ser levado por força policial.

“Um dos motivos pelos quais nós lutamos para que a CPI fosse instalada antes do trote foi para criar um efeito preventivo”, afirmou o presidente Adriano Diogo.

A CPI pode resultar em um código de ética a ser disseminado pelas universidades, já que a legislação sobre o trote é superficial e fraca, comenta Adriano Diogo: “Ela só enquadra o trote violento, como se houvesse trote permissivo, calmo e tranquilo. E todos esses enquadramentos criminais são muito difusos. O objetivo é tentar contribuir com a legislação e estabelecer normas, protocolos e procedimentos para as universidades”.

“Na reunião da congregação da Faculdade de Medicina da USP surgiram propostas para que se proibisse o uso do álcool por período indefinido, definitivamente ou transitoriamente. Houve uma pressão enorme das fábricas de cerveja que patrocinam as atividades acadêmicas para que fosse transitório, por alguns dias”, afirma o presidente da comissão.

Um dos depoentes da primeira sessão da CPI, Marco Akerman, professor da faculdade de Saúde Pública da USP e um dos autores do livro ‘Bulindo com a Universidade – Um estudo sobre o trote na medicina’, afirma que há casos bizarros que precisam ser identificados, punidos e erradicados. O professor  equipara a CPI da USP à Comissão da Verdade, e deverá trazer à tona uma história que está na penumbra, no Brasil.

Também em depoimento à Comissão, Luísa, de 24 anos, aluna da faculdade de geografia da USP, conta que era assediada e ameaçada, desde o começo do ano, por bilhetes que encontrava em sua mochila e seu carro, até que em  agosto sofreu uma tentativa de estupro no estacionamento da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Campus Butantã, em plena luz do dia.

Estudantes também acusam o reitor Marco Antonio Zago de ter praticado assédio moral durante uma reunião do Conselho Universitário da USP e pensam em processá-lo. O fato ocorreu quando ela e outros representantes dos estudantes no Conselho questionaram um texto do reitor, que ao invés de criticar os agressores, criticou as mulheres que estão tendo a atitude corajosa de denunciar os casos. Segundo a estudante Marcela Carboni, a atitude é reflexo de como todos esses casos de violência dentro da universidade têm o respaldo institucional.