abusos nas universidades

CPI cobra ex-prefeito de campus da Esalq-USP em caso de estupro há 12 anos

Dirigente alega que investigação não prosseguiu porque a vítima não fez denúncia; ativistas e professores contestam versão

Alesp

Falta de ação das autoridades do campus denota conivência, segundo ativistas presentes na CPI

São Paulo – O professor Marcos Vinicius Folegatti, prefeito do campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) 12 anos atrás, foi cobrado pelos deputados estaduais da CPI que apura a violação dos direitos humanos nas universidades paulistas, durante sessão no último dia 21, sobre o caso de estupro coletivo sofrido por uma aluna de 17 anos, na época.

O ex-prefeito do campus disse que a sindicância do caso não foi adiante porque a vítima não fez a denúncia, pediu apenas para que retirassem informações que circulavam na internet, na forma de e-mail.

O deputado Adriano Diogo (PT-SP), que preside a comissão, leu um trecho do depoimento do pai da vítima em sessão fechada: “Tudo isso aconteceu, e ela relatou, e nós procuramos o prefeito da cidade universitária, que era amigo nosso de antes. Hoje, é um ex-amigo, óbvio. Ele foi omisso e nos recomendou o seguinte: ‘Olha, não vai fazer nada. Deixa isso quieto'”.

Quanto ao teor das informações publicadas na internet pelos estudantes apontados como autores do estupro pelos pais da vítima, o professor Folegatti afirma que desconhecia esse conteúdo. Adriano Diogo conta o que foi divulgado: “Fizeram uma rede de e-mail para todos os alunos e contaram como fizeram com ela. Como eles a embebedaram, a embriagaram, como ela ficou inconsciente e como eles, em oito, a estupraram.”

A militante da Marcha Mundial das Mulheres, Maria Fernanda Marcelino, presente na sessão, destacou a omissão da instituição no caso e contestou o prefeito do campus ao alegar que não deu sequência ao caso por falta de denúncia formal e por dizer que a menina, ao ser perguntada, se negou a relatar os fatos. “É um crime hediondo, que recaí sobre as mulheres a responsabilidade. Ao invés de vítima, ela passa a ser ré. É muito injusto com as mulheres, principalmente com uma menina de 17, 18 anos”, falou à Rádio Brasil Atual.

Para o sociólogo Claudio Monteiro, analista sociocultural de Secretaria Estadual de Saúde, as declarações do professor da Esalq são falaciosas. “O estupro é  um crime de direito público, tem que ser investigado e o seu culpado, julgado em detrimento da vítima ter feito uma denúncia, ou não. Se a universidade soube do fato e não tomou atitude nenhuma, ela está sendo conivente.”

Na plateia, a professora titular de história da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciencias Humanas (FFLCH) , Zilda Iokoi, do Núcleo de estudos das diversidades, intolerâncias e conflitos da USP, também contestou o professor da Esalq. “Estamos aqui fazendo um esforço enorme para ver todos os problemas em que vivemos todos esses anos, portanto, não adianta a gente fingir que não aconteceu nada. A universidade tem que mudar de atitude e ensinar democracia, respeito ao corpo e tolerância. Temos que enfrentar o passado para poder criar um futuro novo.”

Ouça a reportagem completa da Rádio Brasil Atual: