Comissão da Verdade recebe documentos e sugestões da sociedade civil

Encontro em Brasília serviu para que membros da CNV reafirmassem compromisso com apuração dos crimes da ditadura nos dois anos previsto pela lei, desde que contem com colaboração dos brasileiros

No evento, representantes de 19 estados e do Distrito Federal apresentaram suas reivindicações (Foto: Elza Fiúza/ABr)

São Paulo – A Comissão Nacional da Verdade (CNV) se encontrou ontem (30) com comitês estaduais compostos por membros da sociedade civil que se dedicam a resgatar a memória histórica dos episódios ocorridos durante a ditadura militar (1964-1985).

No evento, representantes de 19 estados e do Distrito Federal apresentaram suas reivindicações, pediram informações, deram sugestões ao trabalho da comissão e protocolaram um total de três caixas de documentos que devem contribuir com a elucidação das violações dos direitos humanos durante o regime de exceção.

Segundo o coordenador da CNV, Gilson Dipp, as comissões estaduais e os comitês da sociedade civil têm papel fundamental no trabalho que está sendo realizado pela Comissão Nacional da Verdade. “Será um trabalho de complementaridade, conjugado”, afirmou.

Para o comissionado Cláudio Fonteles, o diálogo com a sociedade civil será contínuo. “Demos aqui mais um passo de uma caminhada, contínua, em defesa da sociedade livre, para que nunca mais se repita a quebra da ordem democrática que ocorreu no Brasil”, analisou. “Nosso relatório final deverá ter propostas concretas à sociedade, ao Estado e à administração pública para que isso possa se tornar realidade.”

A advogada Rosa Cardoso da Cunha, também membro da CNV, disse que os dois anos previstos por lei para que a Comissão Nacional da Verdade produza seu relatório serão suficientes desde que haja concentração de esforços e adesão da sociedade. “Se entendermos que esta é uma obra coletiva, se soubermos buscar e receber a contribuição dos militantes dos direitos humanos e de nossos intelectuais, sim, nós conseguiremos.”

Psicanalista e integrante da comissão, Maria Rita Kehl fez um pronunciamento ao final do evento assegurando que a CNV terá de descobrir e apontar, em seu relatório final, os obstáculos à consolidação do regime democrático no país. “Temos de mostrar que não está tudo bem, apontar os bolsões do regime de exceção no Estado democrático”, afirmou, citando como exemplo as mortes cometidas pelo aparato policial brasileiro até hoje. “Temos uma das polícias que mais mata no mundo e isso é resquício da ditadura.”

Com informações da assessoria de imprensa da CNV