São Paulo – Os casos de racismo que têm o atacante Vini Jr. como alvo principal podem levar a polícia da Espanha a interromper partidas e esvaziar estádios. Essas possibilidades estão em nova instrução do Ministério do Interior da Espanha para alterar o papel da polícia nesses episódios. O jornal El País teve acesso ao documento, divulgado nesta segunda-feira (3). Segundo a publicação, a polícia poderá orientar o árbitro “a não iniciar, a paralisar ou suspender um jogo” de forma temporária ou definitiva, quando o caso de discriminação for considerado “grave”. 

A nova instrução indica que a polícia espanhola poderá inclusive esvaziar um estádio em “caso urgente de segurança pública ou de risco grave”. A medida vem quase dois meses depois de um ataque racista sofrido pelo jogador de futebol Vinicius Júnior, na Espanha, durante uma partida de seu time, o Real Madrid, contra o Valência, em 21 de maio. Ela altera regra que até então permitia que apenas a arbitragem pudesse interromper uma partida. 

• Racismo exige intolerância, afirma autora de projeto que propõe interromper jogos diante do crime

Reiterados casos de racismo

Vini Jr. foi alvo de pelo menos 14 casos semelhantes de racismo durante partidas de LaLiga. Mas somente um jogo foi interrompido, em 2019, quando torcedores chamaram um jogador de “nazista” na disputa entre Rayo Vallecano e Albacete. Dos casos de violência, 9 foram enviados ao Ministério Público espanhol. Contudo, sete foram arquivados. Um deles sob a justificativa de que o coro racista, vociferado durante uma partida, embora “inapropriado”, era parte da comemoração.

No caso mais recente, que indignou o mundo, o jogo só foi interrompido – e por nove minutos – após protestos do jogador brasileiro. Revoltado e desestabilizado, Vini Jr. acabou expulso e agredido por um golpe de mata-leão de jogador adversário, do Valência. Após apurações, o clube foi multado e parte do estádio foi fechada para torcedores. Três jovens também foram detidos pelo ataque discriminatório e devem responder por crime de ódio. 

Segundo o El País, a nova instrução será enviada nos próximos dias à Polícia Nacional, à Guarda Civil e ao governo espanhol. As medidas devem ser implementadas de maneira gradual e em comum acordo com os árbitros, mas uma decisão unilateral das forças de segurança está prevista caso “as chamadas para restaurar a ordem tenham sido esgotadas e quando não houver possibilidade imediata de tal restauração”. A nova temporada do campeonato deverá ser retomado em agosto. 

• Lula encerra seminário Brasil-África com apoio a Vinícius Júnior