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Carandiru: Setença de acusados deve sair entre hoje e amanhã

Nessa segunda etapa do julgamento, 25 policiais militares respondem pelas mortes de 73 dos 111 presos assassinados em 1992

São Paulo –O Júri da segunda etapa do julgamento do massacre do Carandiru deve definir entre entre hoje (2) à noite e a madrugada de amanhã a sentença de 25 policiais militares acusados pelas mortes de 73 dos 111 presos assassinados durante o episódio, ocorrido em 2 de outubro de 1992.

Depois de ouvidas as testemunhas e os acusados, hoje é a vez da defesa e da acusação exporem seus argumentos finais. Entre exposições, tréplicas e réplicas, cada parte tem até cinco horas para falar, de maneira que a sessão, que começou por volta das 10h, pode terminar perto da meia-noite.

Depois disso os jurados se reúnem para dar o veredicto. No julgamento anterior, em abril, 23 policiais foram condenados a 156 anos de prisão, cada um, pela morte de 13 detentos.

Rota

Ontem, durante depoimento do tenente-coronel Salvador Modesto Madia, ele negou responsabilidade da Rota pelo massacre.

“Sei que nós não fizemos”, disse. Os 25 policiais se dizem inocentes pelas mortes dos detentos e insistem na tese de que houve a necessidade de invasão da Polícia Militar no local. Dos 25 acusados, cinco prestaram depoimento e todos falaram que houve confronto entre policiais e presos, que culminou em mortos e feridos. Outros 18 se mantiveram em silêncio e dois deles não acompanham os trabalhos do júri porque estão doentes.

No dia do massacre, disse Madia, ele chegou ao presídio carregando um revólver e uma metralhadora. Ao entrar na penitenciária, disse que ouviu muitos gritos, barulhos e estampidos. E lembrou ter feito alguns disparos, mas não soube precisar quantos. Segundo ele, a situação no presídio, naquele dia, foi extremamente tensa, “a maior adrenalina que já passou na vida”.

Durante interrogatório feito por promotores e por sua advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza, o tenente-coronel comentou também o período em que comandou a Rota, entre novembro de 2011 e setembro de 2012.

Na época, a tropa matou 48 pessoas entre janeiro e junho de 2012, segundo números da Ouvidoria da Polícia – aumento de 20% em comparação a igual período do ano anterior.

Segundo Madia, as pessoas só falam do aumento do número de homicídios, mas se esquecem de que, no período em que comandou o órgão, houve um grande número de apreensões de drogas e de armas. “Batemos, literalmente, de frente com o crime organizado. De verdade. Fizemos inúmeras apreensões, mas só se fala do número de letalidade”, disse.

Madia também falou do suposto apreço que a população de São Paulo teria pela Rota. “O povo adora a gente”, disse ele, ressaltando que a tropa de elite paulista entra nas regiões, principalmente periféricas, onde o Estado não chega e negou a ideia de que a Rota seja um instrumento policial criado para matar. “A Rota, antes de matar, ela prende, ajuda as crianças, faz partos”, disse.

“Dizem que nós [policiais] perseguimos pretos e pobres. Mas olhe para eles [Madia apontou para os policiais no plenário que também são réus, alguns deles negros], que se aposentam com R$ 2,7 mil por mês”, falou, em tom exaltado. Esta mesma afirmação foi feita por Madia em dois momentos de seu depoimento.

Madia foi o quinto policial militar a ser ouvido ontem. Em 15 horas de depoimentos, também falaram o major Marcelo Gonzales Marques, o tenente-coronel Carlos Alberto Santos, o ex-capitão Valter Alves Mendonça e o tenente Edson Pereira Campos.

Com informações da Agência Brasil.