Carandiru: júri ouve ex-detentos que escaparam do massacre

Julgamento, que teve início hoje, terá o ex-governador Fleury Filho como uma das testemunhas de defesa

O ex-governador Fleury Filho (esquerda), que ordenou a invasão do Carandiru em 1992, está entre as testemunhas de defesa (Foto: Victor Soares/ABr)

São Paulo – Cinco ex-presidiários que estavam no Carandiru no dia do massacre que terminou com o assassinato de 111 detentos, em outubro de 1992, serão as primeiras testemunhas de acusação a serem ouvidas hoje (8) no julgamento de 26 policiais militares apontados como responsáveis por 15 daquelas mortes. Os depoimentos de Marco Antonio de Moura, Milton Abraão, Sandro Aparecido da Silva, Aparecido Fidélis e Osvaldo Negrini Neto começam a ser tomados à tarde, após os sete jurados concluírem a leitura de um resumo do processo, cuja íntegra tem mais de 51 mil páginas.

Depois das testemunhas de acusação, o tribunal, instalado no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, irá ouvir as pessoas escaladas pela defesa – entre elas, algumas que, na opinião de movimentos de direitos humanos, deveriam constar entre os réus, como o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho (1991-1994) e seu secretário de segurança pública à época do massacre, Pedro Franco de Campos, que autorizaram a invasão do presídio pela Tropa de Choque da PM.

Além de Fleury e Campos, estão elencados como testemunhas de defesa os desembargadores Ivo de Almeida, Fernando Antonio Torres Garcia e Luiz Augusto San Juan França, todos do Tribunal de Justiça de São Paulo, além de Antonio Filardi Luiz, Darcy da Silva, Lélces André Pires de Moraes e os coronéis PM Reinaldo Pinheiro Silva e Luiz Gonzaga de Oliveira.

Os 26 acusados no julgamento iniciado hoje atuaram no segundo piso do Pavilhão 9 no dia da invasão, onde morreram 15 detentos. Nenhum dos 26 foi preso até hoje, e oito continuam na ativa.

Após falarem as testemunhas, inicia-se a fase de debates, com duas horas e meia para que o promotor faça a acusação e igual período para a defesa, com possibilidade de réplica e tréplica. O conselho de jurados se reúne depois disso para dar a sentença. A previsão é de que o julgamento termine até sexta-feira (12).

Os demais acusados pelas outras mortes devem ser julgados ainda neste ano, em mais três “lotes”, com intervalos de dois meses entre um e outro julgamento.

Com informações da repórter Gisele Brito